O governo se mexeu e tomou providências para evitar novos acidentes como o que, pouco mais de uma semana atrás, interrompeu as operações no aeroporto de Viracopos por 46 horas.
Conforme anunciou ontem o ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt, foi nomeada uma comissão para discutir o problema e buscar alternativas.
Só para efeito de registro: 10 dias depois do acidente é que o governo nomeou a tal comissão. E ela só colocará a mão na massa a partir da semana que vem…
Mais rápida foi a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que uma semana depois do acidente lavrou contra a companhia americana Centurion, dona do cargueiro MD11 que sofreu o acidente, uma multa no valor de R$ 2,8 milhões.
Aí estão as providências: uma comissão e uma multa. A população que depende do transporte aéreo pode ficar tranquila. Se amanhã ou depois acontecer outro incidente que obrigue à interdição de uma pista movimentada (três toques na madeira), já haverá uma comissão em funcionamento e uma Agência disposta a aplicar uma multa na proprietária do avião acidentado.
Nos 10 dias que se passaram, muita coisa já poderia ter sido tratada. Do ponto de vista técnico, no entanto, a única solução com a qual o ministro acenou foi a adaptação das pistas de táxi (os caminhos paralelos que conduzem o avião da estação de passageiro à cabeceira da pista) para que possam receber operações de pouso e decolagem em caso de emergência.
E só. É lógico que ninguém em sã consciência tem o direito de exigir de Bittencourt um plano detalhado de ação apenas 10 dias depois do acidente.
Mas também não é o caso de aceitar os argumentos apresentados para justificar a lerdeza do governo em encontrar uma solução para uma situação que só foi resolvida em 46 horas porque a TAM conseguiu deslocar da cidade de São Carlos (onde fica seu centro de manutenção) para Campinas – a menos de 150 quilômetros de distância – o guindaste que permitiu a remoção do MD11.
Se o acidente tivesse acontecido em Salvador, é provável que o jato da Centurion ainda estivesse estatelado no meio da pista e o aeroporto fechado até hoje.
O ministro da Aviação Civil diz, com razão, que nem todo aeroporto do mundo dispõe de um equipamento como esse. E que no Japão, assim como no Brasil, só existe um guindaste com as características do que foi utilizado em Viracopos. É verdade.
Também é verdade que o Brasil tem um território 22 vezes maior do que o japonês (onde o equipamento disponível pode, portanto, chegar ao ponto em que é necessário em muito menos tempo) e que, no Japão, nenhum dos aeroportos estratégicos conta com apenas uma pista de pouso e decolagem.
O Brasil precisa perder a mania de varrer para debaixo do tapete a necessidade de prevenir o pior.
Fonte: Brasil Econômico, 25/10/2012
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