Em novembro passado, quase um ano antes da eleição presidencial, o cientista político Alberto Almeida publicou, na conclusão do livro O voto do brasileiro, sua previsão para o pleito: “Segundo turno entre PT e PSDB”. “As predições não são determinísticas, mas sim probabilísticas”, tratou de ressalvar logo em seguida. Mesmo assim, apesar de as pesquisas ainda sugerirem que, no cenário mais provável — em que a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é indeferida —, Jair Bolsonaro passará ao segundo turno, contra Marina Silva ou Ciro Gomes, Almeida mantinha sua previsão nesta semana.
Seu argumento deriva da geografia do voto brasileiro nas últimas eleições. Eleitores de regiões e áreas metropolitanas mais pobres e desiguais, principais beneficiários dos programas sociais nos governos Lula e Dilma Rousseff, continuarão, diz ele, a votar no PT. Em contrapartida, a classe média que vive nas regiões de menor desigualdade, sobretudo no estado de São Paulo, tenderá a votar no PSDB. “Onde as pessoas são mais pobres, a sociedade é mais dependente do governo, e a maioria dos eleitores vota no PT”, escreve. “Onde as pessoas são de classe média, a sociedade é menos dependente do governo, e a maioria acaba votando no PSDB.” O mais provável, de acordo com a análise dele, é que os pobres do Nordeste e a classe média paulista mantenham suas escolhas passadas. Para tirar o PT do segundo turno, um candidato como Ciro ou Marina precisa romper a cidadela petista no Nordeste. Para tirar o PSDB, Bolsonaro precisa invadir a fortaleza tucana em São Paulo. “A extensão territorial do Brasil, combinada com a quantidade de eleitores, cria uma formidável barreira à entrada de qualquer candidato que não seja nem do PT nem do PSDB”, diz Almeida.
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Como explicar então o desempenho sofrível do tucano Geraldo Alckmin nas pesquisas, até mesmo em São Paulo, onde vem perdendo para Bolsonaro? Ou a dificuldade, evidente nas mesmas pesquisas, do petista Fernando Haddad de herdar os votos de Lula?
Para Almeida, ainda é cedo. Só agora o eleitor começou a ser apresentado aos candidatos.
“O processo de comunicação é cumulativo”, afirma.
Haddad acabará, no cálculo dele, herdando uns 70%, talvez 80%, da preferência por Lula, segundo sugerem sondagens em estados do Nordeste como Maranhão ou Pernambuco. Quanto a Alckmin, ele reconhece que a situação é mais difícil. Sua popularidade ao deixar o governo paulista não permite afirmar com certeza se ganhará ou perderá no próprio estado. Pelas contas de Almeida, o cenário seria de vitória quase certa caso a aprovação ao governo Alckmin em São Paulo fosse superior a 46% ou de derrota caso ficasse abaixo de 35%. Na semana da saída do cargo, era de 36%, uma faixa intermediária que dificulta a previsão.
Alckmin tem a vantagem óbvia de contar com 44% do tempo de propaganda no rádio e na TV. Mas nunca um candidato tucano chegou às vésperas do horário eleitoral em patamar tão baixo nas pesquisas. No último Datafolha, ele tem apenas 6% das intenções de voto. Tinha 24% em 2006. Aécio, 20% em 2014. Serra, 33% em 2010. “A menor taxa de intenção de voto de um tucano no início da propaganda em rádio e TV era a de Serra, em 2002, com 13%”, diz um levantamento do site Poder360. Almeida afirma que, a quatro semanas do primeiro turno, quando o horário eleitoral ainda nem começou, os votos não estão consolidados. Tudo ainda pode mudar. Ele acredita que, nas próximas duas semanas, com a campanha no rádio e na TV, Alckmin e Haddad subirão, enquanto Bolsonaro cairá. “Ele já se tornou alvo. A queda já borbulha em alguns indicadores, como taxa de rejeição”, diz. “A ultrapassagem de Bolsonaro pode acontecer até na última semana. Foi quando Aécio Neves ultrapassou Marina em 2014.” A aposta de Almeida é que, apurados os votos do primeiro turno, Haddad estará em primeiro, Alckmin em segundo, vencendo Bolsonaro na reta final, quase no fotochart. Se acertar, talvez seja o caso de lhe pedir um palpite para a Mega-Sena.
Fonte: “Época”, 31/08/2018
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