Os países do Báltico têm uma tradição enorme em busca de liberdade e democracia. O mundo conheceu este ímpeto durante a queda da Cortina de Ferro. Em agosto de 1989, um cordão humano de 650km atravessou Lituânia, Letônia e Estônia em um protesto pacífico. Pouco tempo depois as antigas três repúblicas socialistas da União Soviética conseguiram se libertar da opressão de Moscou e tornaram-se países livres.
Fato é que estas pequenas nações se tornaram símbolo contra a resistência comunista e inspiraram diversos outros países a se rebelar contra o regime comandado por Moscou. A coragem mostrada pelos países do Báltico mostrou que independência e autodeterminação são essenciais para garantir a democracia.
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Décadas depois, as nações do Báltico continuam a inspirar outros países em temas considerados essenciais, posicionando-se como referência e também inspiração. O crescimento da Estônia, em especial, colocou o país na vanguarda em relação aos vizinhos e a Europa de um modo geral, seja pelos aspectos econômicos, assim como pela revolução digital e limitação da influência e poder do governo sobre a vida dos cidadãos.
Depois de livre a Estônia continuou a ter que lidar com a incômoda presença russa em seus limites territoriais, uma experiência que ensinou o pequeno país do Báltico a lidar com grandes nações que pretendem exercer influência em suas fronteiras. Logo, não foi com surpresa que o país báltico passou a enxergar a tentativa de penetração chinesa com vistas a dominar seu estratégico sistema tecnológico.
O modelo chinês, identificado pela Estônia, visa enfraquecer a aliança atlântica entre Europa e Estados Unidos, tentando dividir dois aliados históricos, essenciais no desenho da visão ocidental, que preserva a democracia e a liberdade como conhecemos. Ao dominar a tecnologia, o grande risco é de silêncio das democracias pelo governo chinês, que utilizam empresas como a Huawei e ZTE como extensão dos interesses de Pequim.
A Estônia, que possui um sofisticado modelo de alta tecnologia, entende que a China tem utilizado sua influência econômica, monitoramento de cidadãos chineses no exterior e aproximação com elites locais como instrumento de pressão a favor de seus interesses. Estes movimentos estão sendo monitorados por Tallin, uma vez que as aproximações dos chineses com russos podem gerar problemas reais em suas fronteiras.
A maior preocupação da Estônia é o desmantelamento do sistema ocidental como conhecemos, responsável pela garantia de sua independência e por sua prosperidade e desenvolvimento nas últimas três décadas. Sempre céticos diante dos acontecimentos, tendo sido ocupada de todos os lados, a Estônia, que foi refém dos russos durante tanto tempo, quer impedir qualquer movimento que possa colocar seu destino em risco.
O país báltico, assim como a República Tcheca, tem sido um país com mais voz contra a ascensão e influência chinesa na Europa do que países maiores, como Alemanha e França. Entretanto, esta não é a primeira vez que o báltico se torna um pioneiro ao escolher o rumo certo. Isto já ocorreu em 1989. A experiência ter sofrido nas mãos de Moscou por tantos anos tornou a percepção dos países do Leste Europeu extremamente clara.
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