Gostaria de fazer algumas reflexões sobre quatro questões que me parecem fundamentais para desenvolver a excelência no campo acadêmico das Relações Internacionais brasileiras: necessidade de ter uma visão geral básica da fronteira da ciência contemporânea e das grandes questões que tem importantes interfaces com as Relações Internacionais; necessidade de promover a fluência em língua inglesa entre todos os estudiosos de Relações Internacionais; necessidade de aumentar a proporção de pesquisa grupal com certa escala sobre a pesquisa individual artesanal, hoje fortemente predominante; em consonância com os pontos 1 e 3, torna-se também necessário aprofundar o conhecimento dos requerimentos metodológicos e epistemológicos da abordagem interdisciplinar.
A propósito do primeiro ponto, encontramos uma clara deficiência da comunidade de Relações Internacionais no Brasil com relação ao diálogo e pesquisa conjunta com áreas de pesquisa cientifica interdisciplinar que demandam hoje claramente a presença das Relações Internacionais, entre outras: a mudança climática, a energia, a erosão da biodiversidade, o envelhecimento das populações dos países de renda alta e média, as comunicações, a sociedade do conhecimento, a segurança cibernética, e, a governança de áreas de desenvolvimento cientifico-tecnologico de alto impacto na sociedade internacional (nanotecnologia, biotecnologia, genética humana, geo-engenharia climática).
Penso que seria interessante promover um conhecimento básico sobre estes problemas na comunidade e estimular a professores e doutorandos a se engajarem em pesquisas interdisciplinares.
Devido ao fato empírico fundamental do inglês ser a língua de comunicação internacional em qualquer área da ciência, o segundo ponto parece óbvio, mas não é tanto se considerarmos os seguintes fatores: a baixa proporção de professores capazes de fazer uma palestra em inglês; a baixa proporção de alunos que conseguem acompanhar uma classe ou palestra em inglês; a baixa proporção de professores que publica em veículos em língua inglesa e participa em congressos internacionais. É fundamental fazer um esforço concentrado e rápido no sentido de aumentar o grau de bilingüismo na comunidade brasileira de Relações Internacionais.
O terceiro ponto talvez seja o mais difícil de implementar, dada a forte tradição de trabalho individual artesanal predominante no Brasil – mas não por isso é menos fundamental. Embora existam alguns grupos de professores e estudantes que já realizam efetivo trabalho grupal de pesquisa e publicação, a grande maioria continua produzindo trabalhos individuais. O problema é que a complexidade do mundo atual torna bastante difícil que apenas um individuo consiga dar conta consistentemente de uma problemática, mesmo que ela seja das mais simples. Este não é um problema especifico das universidades brasileiras, mas é generalizado. Institutos independentes e think tanks tem sido um caminho utilizado para promover um trabalho grupal de pesquisa que encontra dificuldades de se concretizar nas universidades.
Precisamos pensar em caminhos para aumentar os estímulos a pesquisa grupal com alguma escala no Brasil. A criação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia deu um grande impulso nesse sentido, mas este processo atingiu ainda pouco a comunidade de Relações Internacionais.
O quarto ponto se refere a um complemento cada vez mais necessário da formação acadêmica dos pesquisadores contemporâneos, mas esta exigência aumenta exponencialmente no campo das Relações Internacionais. Este campo recebe tradicionalmente o aporte de um número significativo de disciplinas, mas a pesquisa poucas vezes consegue explicitar corretamente os pressupostos que sustentam essa integração. Numa área praticamente interdisciplinar por natureza, torna-se urgente que o pesquisador se aprofunde nas exigências metodológicas e epistemológicas da pesquisa interdisciplinar para que possa tornar mais fluidos os diálogos disciplinares, assim como para evitar as tentações do reducionismo teórico-ideológico que sempre ameaça ao analista das Relações Internacionais.
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