Um movimento de forte realização nos mercados globais em apenas um dia, na segunda-feira (dia 5), chamou atenção pela sua intensidade e rapidez. No que muitos chamam de “crash relâmpago”, em NY a DJ caiu 4,6%, um dos maiores recuos da história em apenas um dia, a S&P 4,1% e a bolsa Nasdaq 3,8%; na Europa, a bolsa alemã DAX recuou 0,7%, Londres 1,4% e na Ásia a bolsa de Tóquio, Nikkei, recuou mais de 4%.
Foi realmente um movimento rápido e intenso, mas previsível diante de mercados já muito “esticados”, em alguns havendo um claro descasamento entre fundamentos e onda compradora. Em um ano o DJ já acumula alta de 20%, rompendo todos os recordes, a 24 mil pontos. E isso, num momento de farta liquidez, dada a frouxidão da política monetária norte-americana pós 2008. Com juro próximo a zero, as bolsas dispararam, mas nem sempre refletindo algo sustentável. Alguma correção teria que acontecer.
Aconteceu, em parte, nesta segunda-feira. Para muitos, foi um “ajuste natural, diante dos lucros acumulados nos últimos anos”, mas muito intenso. Contribuiu para isso o “gatilho” dos dados do mercado de trabalho norte-americano, a pleno emprego, mostrando os salários por hora trabalhada avançando 2,9% pela taxa anualizada, o que pode vir a gerar pressões inflacionárias nos próximos meses. Em resposta, o mercado passou a especular que o Fed pode acelerar no aperto monetário. O ciclo de alta do Fed Funds pode ficar em três ou mesmo em quatro ajustes ao longo deste ano.
Leia também de Julio Hegedus Netto:
Ventos de davos
Day after
Situação se normalizando, mas…
Contribuiu para esta queda intensa, também, a atuação de fundos de alta frequência, robôs e quantitative traders. Foi impressionante, aliás, o movimento do Indicador de Volatilidade (VIX) da bolsa de NY. Deu um salto em poucos dias, de 179%, na maior alta em sete anos, mas já mostrando alguma acomodação em patamar mais baixo nesta terça-feira (caía 15,1% as 16h). Este é um fato importante. A maioria das bolsas já revertia o forte mergulho da segunda, operando em alta nesta terça-feira.
Sendo assim, o que esperar para os próximos meses? Sobre os mercados, não descartamos novos movimentos corretivos, algo normal, dado o rally recente. No que se refere à política monetária do Fed, a estratégia de Jerome Powell deve se manter no gradualismo de Janet Yellen, mas importante será observarmos os próximos indicadores de mercado de trabalho e de inflação, diante da possível pressão adicional dos preços-salários.
No Brasil, estejamos atentos à agenda da reforma da Previdência, na sua pouco provável aprovação no dia 19. Em paralelo, o BACEN deve decidir nesta quarta-feira pelo corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, a 6,75%. Dúvidas, no entanto, surgem sobre os próximos movimentos, para a reunião de março (dia 21).
PRODUÇÃO DE VEÍCULOS EM JANEIRO
E a economia segue em bom ritmo de recuperação, com a produção de veículos recuperando as perdas do período recessivo.
Pela Anfavea de janeiro, a produção avançou 24,6% contra o mesmo mês de 2016, totalizando 216,8 mil veículos (carros, comerciais leves, caminhões e ônibus), bem acima do registrando em janeiro do ano passado (174 mil). Cabe salientar que neste mês de 2017 o desempenho acabou muito abaixo do esperado. Na opinião da instituição “este desempenho representou a saída da fase mais depressível, num número bem razoável para janeiro, na média mensal dos últimos dez anos”.
Pelo lado das exportações chegou-se a 47 mil unidades escoadas, 23,6% acima do registrado no mesmo mês de 2017. Já pelo lado das vendas internas, o total foi de 160 mil veículos licenciados, 22,9% maior na mesma base de comparação.