O Brasil vem acalentando há décadas o espírito sul-americano, conceito integrativo das nações que partilham nosso espaço continental e do qual o país se considera um líder natural.
A união comercial e política da América do Sul foi inscrita com toda solenidade na nossa Constituição federal de 1988. Mas da teoria à prática, muito planejamento, quilômetros de conversa e negociações pesadas e demoradas são etapas inevitáveis.
O Brasil já pagou um bom pedágio nessa aproximação. Sua abordagem tem sido eminentemente política, que deita raízes na tradição do nosso Itamaraty. As questões comerciais são sempre consideradas, mas vêm claramente a reboque da política.
Para azar nosso. O mundo está conectado por interesses sobretudo comerciais.
Aproximações de países baseadas apenas num vago conceito de irmandade na opressão, supostos laços de sangue ou culturais que de fato não existem ou são muito tênues, revelam-se, cada vez mais, uma rua sem saída na integração comercial e econômica de países, quando não pura perda de tempo.
O Brasil está amargando esse inferno astral no Mercosul, do qual se presume o líder. Mas um líder deve ter idéias claras sobre seu próprio projeto, coisa que o Brasil ainda não definiu para si, por isso restando impossível esclarecer a outros países que projeto pretende no plano regional. Países menores da região, no entanto, não esperam pelo Brasil. Constroem seus próprios caminhos.
Barreiras comerciais de 90% dos produtos vendidos na nova Aliança do Pacífico – México, Colômbia, Peru e Chile – pelo acordo de comércio fechado entre eles no ano passado, deverão ser eliminadas no próximo dia 31.
A Aliança do Pacífico se move com rapidez no cenário regional. Seus presidentes fazem reuniões por meio digital, sem sair de seus gabinetes. E pretendem atrair novos parceiros como Costa Rica e Panamá.
A Aliança busca uma integração rápida, sem conotação político-ideológica, o que a aproxima de outra iniciativa, a TPP TransPacific Partnership (Parceria TransPacífica) de liderança norte-americana, em torno do Oceano Pacífico, com Chile, Austrália, Nova Zelândia, Cingapura, México, Malásia, Canadá e Peru.
A Aliança do Pacífico coloca o Mercosul em posição de desvantagem. Ao se lançar no ambiente sul-americano, a Aliança deverá atrair novos participantes, inclusive os que estão insatisfeitos com o Mercosul, como o Paraguai, que já pediu que fosse admitido como observador.
Desde que o grande projeto de uma Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, foi abandonado em 2003, após as fracassadas conversações de Lula com George Bush, o Brasil nunca mais conseguiu avanços significativos em parcerias comerciais regionais.
Verdade é que o Brasil simplesmente não aconteceu. A participação brasileira no comércio mundial está congelada abaixo de 2% do total mundial há décadas.
Se pior não ficou, é pelo desempenho fora de série dos preços das commodities minerais e agrícolas, algo que a nossa política de comércio exterior não comanda. Estamos jogando tempo e dinheiro fora na política regional.
Fonte: Brasil Econômico, 15/03/2013
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