Por que falamos de cotas no Brasil? Ora, porque o governo é absolutamente incompetente na digna educação do povo. Se tivéssemos um ensino público de qualidade, a questão das cotas seria irrelevante, pois os pobres – independentemente, se brancos, negros ou pardos – chegariam em igualdade de condições com estudantes da iniciativa privada. Aliás, houve um tempo (e não faz muito) que as escolas públicas eram inclusive superiores às particulares; infelizmente, no cair de um dia de sol, o ensino público foi implodido no Brasil, condenando milhares de crianças à miséria da ignorância.
Recentemente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa); de 44 países avaliados, o Brasil ficou em 38º lugar. O fato é de gravidade singular e, em uma nação séria, levaria a imediata demissão do titular da pasta da Educação. Ato contínuo, a Presidência da República teria adotado imediatas atitudes com vistas a salvar o ensino público do naufrágio em que se encontra. Mas a ilustre ocupante do Planalto simplesmente calou e nada fez. Parece que, quando a notícia é desagradável, é melhor esquecer e esperar por uma jogada de marketing que venda a ilusão de um país de maravilhas. A questão é que, ao invés de Alice, temos Dilma…
Fundamentalmente, a ideia de um ensino público eficaz e de qualidade surge com o primado da democracia. Se o poder emana do povo, é porque precisamos educá-lo para a tomada de boas decisões. O problema é que o governo não quer um povo instruído, pois, quanto mais ignorante, mais fácil manobrá-lo. É, por isso, que as escolas públicas estão sendo definhadas, enquanto os professores são fragorosamente humilhados com salários aviltantes. Essa é a triste realidade do ensino brasileiro. Só não vê quem não quer.
Como o governo está longe de ser trouxa, ele começa a falar de cotas para passar a imagem de preocupação social. Puro jogo de cena. Se realmente estivesse preocupado com os pobres do Brasil, o governo, além de escolas, faria novos hospitais, postos de saúde e aperfeiçoaria, humana e materialmente, o SUS; ainda, ao invés de amedrontar o povo com o perigo das ruas, investiria seriamente em segurança pública, proporcionando um espaço público pacífico e harmônico; por fim, se realmente estivesse preocupado com o bem-estar do trabalhador, alocaria recursos na melhora do transporte público, com melhores ônibus e uma potente ampliação do sistema de metrô e ferrovias.
Para tentar tapear uma realidade gritante, o governo resgatou no Congresso o projeto para a criação de cotas de 20% das vagas nos concursos públicos federais. Sim, cotas, em certas circunstâncias, são constitucionais; todavia, não podem ser indiscriminadamente utilizadas como moeda eleitoral. Objetivamente, precisamos de uma política que vá além da epiderme das cotas, que olhe em nossos olhos, claros ou escuros, que toque em nosso espírito e, com decência e honradez, nos guie a dias melhores. Na verdade, a mediocridade política é a melhor oportunidade para a virtude democrática. E, então, queres a continuidade dos medíocres ou o início de um projeto virtuoso?
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