Entramos definitivamente em plena campanha eleitoral e já é possível perceber que o foco do embate será o resgate do “tripé macroeconômico”: inflação sob controle, contas públicas sólidas e regime de câmbio flutuante.
Não poderíamos esperar nada diferente, afinal as resultantes das políticas macroeconômicas adotadas desde 2008 foram o baixo crescimento e inflação perto do topo da meta. Nossa sociedade já aprendeu que sem crescimento e com inflação será impossível manter e aprofundar as conquistas sociais obtidas desde o lançamento do Plano Real, que possibilitaram a inclusão de milhares de brasileiros no mercado consumidor e permitiram a queda da desigualdade social.
Não há dúvidas que o próximo presidente terá que restabelecer o tripé. A situação atual não é sustentável por mais quatro anos. A pergunta que se coloca é: será que o tripé é suficiente para colocar o Brasil em outro patamar de crescimento e inflação?
[su_quote]Sem o resgate das reformas microeconômicas não conseguiremos crescer mais do que 2,5%[/su_quote]
A resposta é um sonoro não! O tripé é uma condição necessária, mas de longe não é suficiente. Sem o resgate da “Agenda perdida” das reformas microeconômicas não conseguiremos crescer mais do que 2,5% com uma inflação mais baixa do que a atual. A literatura econômica comprova que longos ciclos de crescimento sucedem reformas que aumentam a eficiência do mercado, a produtividade das empresas, a renda, o consumo e consequentemente os investimentos.
Em 2004, parecia que a agenda que já vinha sendo tocada pelo governo anterior, seria aprofundada, mas infelizmente poucas ideias prosperaram, como a Lei de Falências, a instituição do crédito consignado e o Cadastro Positivo. De 2008 para cá, o que tivemos foi um retrocesso enorme no que se refere ao livre funcionamento dos mercados. Em resposta à crise, adotamos políticas de estímulo ao consumo, desonerações pontuais e controle de preços administrados.
As políticas anticíclicas tiveram seu mérito, mas mesmo após a nossa recuperação econômica, continuamos turbinando o crédito público, subsidiando setores “prioritários”, fechamos ainda mais a economia e mais recentemente lançamos um programa audacioso de concessões calcado na forte participação do Estado. Não só abandonamos a “Agenda perdida” como demos alguns bons passos para trás.
Não é à toa que a produtividade total da nossa economia, que cresceu um ponto a mais por ano ao longo da década passada, ficou estagnada desde 2009. Essa é a maior prova de que a fraqueza da nossa economia não é cíclica, é estrutural. O cenário externo é sempre uma desculpa conveniente para a falta de crescimento e choques de alimentos a desculpa para alta inflação. Argumentos desse tipo podem ser válidos por algum período curto, mas não por cinco anos. Também não justificam expectativas pouco favoráveis para nossa economia nos próximos anos. O mundo não está mais em crise. Pode ser que esteja crescendo menos do que o desejável, dados os enormes problemas fiscais que as principais economias desenvolvidas enfrentam. Entretanto, isso não tem impedido que várias economias cresçam mais do que o Brasil desde 2011 e com boas perspectivas para os próximos anos. Em comum, tais países possuem, além de políticas macroeconômicas sólidas, uma agenda de boas reformas institucionais: Chile, Peru, Colômbia e mais recentemente México.
Por que não incluir no debate eleitoral propostas para aumentar nossa produtividade, nossa competitividade, criando condições para aprofundar a inclusão social? Certamente é mais fácil mostrar como o Bolsa Família é um programa barato e de grande efeito multiplicador. Difícil é explicar como melhoraremos nossa saúde, educação, transportes sem crescer de maneira sustentável. As manifestações populares revelaram um desejo da sociedade por um salto de qualidade. O Estado provedor do Bem-Estar Social não pode estar restrito aos programas sociais sem contrapartidas. Temos que dar condições à sociedade de alcançar um maior desenvolvimento, aumentar a eficiência da economia e melhorar cada vez mais a distribuição de renda.
A ânsia pelo crescimento a qualquer preço, a crença de que uma inflação perto do topo da meta não é um problema e que o intervencionismo estatal bem intencionado fortalece a economia nos colocaram em posição medíocre.
A incerteza em relação aos rumos da nossa economia após 2015 é extremamente elevada. Mesmo com todos os candidatos prometendo a volta do “tripé macroecônomico”, as dúvidas em relação aos múltiplos pilares microeconômicos destruídos nos últimos anos persistirão. Para crescermos de forma sustentável, com inflação baixa e inclusão social, não é necessária uma nova matriz macroeconômica e microeconômica. A reinvenção da roda não deu certo. Precisamos restabelecer as conquistas macroeconômicas passadas e avançar nas reformas perdidas. Delimitar o debate atual apenas à questão macroeconômica é um grande erro.
Fonte: site Consultoria Empresarial Auditoria, 29/10/2013
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