Nos últimos 12 meses, o país acumulou um saldo comercial recorde, US$ 68 bilhões. O aumento do resultado comercial tem sido o principal fator (embora não o único) para a redução do deficit nas transações com o resto do mundo —que incluem, além da balança comercial, o resultado de serviços, bem como o pagamento de juros e dividendos, entre outros— de US$ 104 bilhões em 2014 para pouco menos de US$ 13 bilhões nos 12 meses terminados em setembro deste ano.
É bem verdade que tanto em 2015 quanto em 2016 esse fenômeno resultou da forte queda das importações efeito colateral da maior recessão da história recente do país.
No entanto, o desempenho a partir de fim do ano passado apresenta natureza distinta: as exportações voltaram a crescer, de algo como US$ 186 bilhões nos 12 meses terminados em junho de 2016 para quase US$ 216 bilhões nos 12 meses até outubro de 2017.
Da mesma forma, importações também ganharam fôlego, embora menor: saíram de um mínimo de US$ 136 bilhões em novembro do ano passado para US$ 148 bilhões em outubro, isso, lembremos, em contexto de melhora, ainda que discreta, da atividade doméstica.
A combinação de um balanço de pagamentos em melhor forma (mesmo com a atividade em alta) e inflação em queda sugere que a taxa de câmbio está bem alinhada a seus fundamentos, apesar das reclamações persistentes daqueles para quem o preço do dólar está sempre 30% abaixo de seu “valor justo”(perdão, a expressão agora é “taxa de câmbio de equilíbrio industrial”, embora o significado prático seja exatamente o mesmo, isto é, nada).
Posto de outra forma, considerada a atual constelação de preços de commodities, crescimento do comércio global e condições de liquidez internacional, a sempre tão criticada taxa de câmbio não é um obstáculo à recuperação, muito pelo contrário.
De fato, no caso da indústria automobilística, por exemplo, o aumento das exportações líquidas tem sido o principal fator de impulso à produção doméstica. Já no que se refere à indústria como um todo, há também indicações de que maiores exportações de manufaturas têm desempenhado papel relevante na recuperação do setor, 4% de alta desde outubro de 2016.
A desvalorização recente da moeda nacional, ainda modesta, reflete mais a percepção (correta, a propósito) de que, depois de um bom início, o ímpeto reformista do governo Temer vem perdendo momento.
Talvez não por acaso, o dólar começa a se aproximar do valor registrado no momento de eclosão do escândalo da JBS, quando, ao que parece, houve o entendimento de que reformas do porte da previdenciária estavam fora do alcance da atual administração.
Aos poucos vai caindo a ficha de que a situação fiscal é muito mais delicada do que se supõe. A falsa sensação de calma só torna ainda mais remota a tomada de ações corretivas e é o que mais me deixa preocupado com nosso futuro imediato.
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Tenho a honra e o prazer de conhecer William Waack e acredito que a coluna de Demétrio Magnoli de sábado (11) é a melhor análise desse episódio lamentável.
A frase é, de fato, abominável, mas tenho certeza de que William está longe de ser racista e certeza ainda maior da hipocrisia de vários de seus críticos, que, em face de manifestações semelhantes, se calaram por razões de conveniência político-partidária.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 15/11/2017
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