Os pequenos e médios negócios são, por natureza, diretamente ligados à renda do consumidor final. Com a inflação na casa dos dois dígitos – a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2015 com alta de 10,67% – a reticência da população em gastar dinheiro volta a incomdar os donos das PMEs.
As projeções para o início de 2016 também não são animadoras. No primeiro Relatório Focus do ano, economistas consultados pelo Banco Central projetam um avanço do IPCA em 2016 para cima em 0,01 ponto porcentual, 6,87%, acima do teto da meta do governo.
Diante do cenário preocupante, o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV) Clemens Nunes aponta a margem de lucro como um dos principais fatores aos quais o pequeno e médio empresário precisa ficar atento.
“Dado que as pequenas e médias empresas têm dificuldades de acesso ao crédito, o ponto mais sensível a elas é a administração do caixa. E as margens são diretamente afetadas, e afetam o fluxo de caixa dessas empresas”, pontua Nunes.
De acordo com o especialista, este não é o melhor momento para basear o reajuste de preços na concorrência em busca de recuperar os ganhos perdidos com a alta nos preços.
“A inflação afeta a demanda. De uma maneira geral, as famílias têm um poder de compra reduzido com a alta dos preços. Empresas que têm algum poder de mercado, com clientes de alta renda, menos sensíveis à variação de preços, podem recuperar a margem ajustando os preços. Mas há setores em que não é possível fazer isso”, analisa Nunes.
Sobreviver a um período de inflação alta implica, diretamente, na redução de custos fixos e um trabalho minuscioso sobre a planilha de custos variáveis. Isso significa, conforme analisa o professor de economia do MBA do Insper, Otto Nogami, administrar gastos com bens ou serviços como energia elétrica, combustível, transporte, gás, telefone e, em alguns casos, a folha de pagamento. A finalidade, de acordo com Otto, deve ser repassar ao mínimo a inflação ao consumidor.
“O processo inflacionário faz com que os custos das pequenas e médias empresas aumentem. Tentar repassar isso no produto final é correr o risco de que a demanda caia”, pontua Nogami. “É preciso focar na redução do ciclo financeiro. Encurtar o prazo de recebimentos e alongar os pagamentos”, denife o especialista.
Liquidação. O início do ano no varejo é marcado pelas promoções de queima de estoque, estratégia que deve ser olhada com parcimônia pelos pequenos e médios empresários. O fôlego financeiro conseguido nessas durante esse período pode não ser suficiente para sobreviver a um ano de interpéries econômicas.
Ao liquidar o liquidar o estoque, o pequeno empresário precisa pensar em fazer uma linha nova, o que pode culminar na descapitalização em períodos de preços mais altos. “Com a inflação elevada, vai estar mais caro repor o estoque. Diante do cenário econômico que estamos vivendo, o colchão do empresário deve ser aumentado”, pontua Clemens Nunes.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 08 de janeiro de 2016
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