Em 2017, a pesquisadora Carol Dweck, de Stanford, recebeu um dos maiores prêmios em educação, o Yidan Prize, por suas análises que evidenciam que a inteligência não é fixa e pode ser desenvolvida ao longo do tempo.
Ao ler sua obra, “Mindset”, recentemente traduzida para o português, fica claro que quando rotulamos alunos, com base em nossa percepção de seus talentos, acabamos prestando um desserviço àquilo que os fará avançar na aprendizagem, o esforço.
Explico-me: se divido as crianças entre as brilhantes e as limitadas, ou as que têm talento para matemática e as que não têm, isso se torna uma profecia autorrealizável, já que mando uma mensagem inconsciente a elas de que não adianta se empenhar. Afinal, a inteligência e os talentos seriam fixos e, por mais que houvesse esforço, não haveria como aprender.
Uma antiga aluna de Dweck, Angela Duckworth, acrescentou um elemento importante à teoria de sua mestra ao identificar o fator responsável por sucesso em diferentes áreas de atuação profissional. Ela recorre ao conceito de garra (“grit”, em inglês), que define como uma combinação de esforço e paixão.
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As pessoas que são dotadas de motivação intrínseca para realizar determinadas práticas e nelas colocam empenho consistente se destacam em suas lides, segundo as pesquisas de Duckworth, professora da Universidade da Pensilvânia.
Porém, assim como Carol Dweck, Duckworth acredita que este atributo pode ser desenvolvido, pode se ensinar garra, pois ela não é fixa.
Isso significa que o docente pode incluir em seu processo de ensino atividades que levem ao desenvolvimento de esforço e persistência. A paixão virá com a superação de obstáculos, como ocorre, por exemplo, no esporte ou nas artes.
Fazer o jovem acreditar-se capaz de superar barreiras é um dos resultados esperados da educação. Isso envolve um processo de ensino em que se combinem competências técnicas e socioemocionais.
Mas nada disso funcionará se o professor não tiver desenvolvido ele mesmo as habilidades que pretende ver nos alunos. Em outros termos, se o docente não tiver persistência ou garra, se ele desistir facilmente, os estudantes tenderão a não considerar importante ter garra no que fazem em aula.
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Além disso, para que a educação cumpra com sua promessa de gerar igualdade de oportunidades, base para uma sociedade mais evoluída, é preciso que a escola tenha altas expectativas para todos os alunos. Nada de cultura de mediocridade para o conjunto e atenção apenas para os que já se destacam.
Todos podem aprender e em níveis mais altos de aprofundamento. O Brasil não pode deixar ninguém para trás!
Fonte: “Folha de S. Paulo” 14/12/2018