Alunos da rede pública de todo o país vivem a sensação de que 2020 será um ano letivo perdido por causa da pandemia.
Como milhões de pais, a numeróloga Ana Paula Iwaszko, de São Paulo, precisa ajudar os filhos a assistir às aulas pela internet. Eles têm 6 e 11 anos.
“Eu estou com duas crianças e só tenho esse computador aqui. E os dois têm aulas online no mesmo horário. Nós levamos duas horas para poder passar a mesma matéria que ele estava vendo em 40 minutos, então é uma forma de colocar essa aula online como se as crianças estivessem aprendendo e elas não estão aprendendo”, conta.
Em março, os alunos da rede pública de todo o Brasil tiveram as últimas aulas presenciais. Naquele momento, governos e prefeituras começaram a definir como ficariam as aulas durante a pandemia.
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Em 15 estados, São Paulo por exemplo, a rede pública antecipou férias ou entrou em recesso para ter mais tempo para planejar o que fazer. A educação, agora à distância, passou a depender de computador em casa, acesso à internet, adaptação de alunos, pais e professores ao novo modelo. Desde que as escolas fecharam, dois meses se passaram, e muitos estudantes brasileiros ainda não estão aprendendo, o que os especialistas chamam de apagão educacional.
“A realidade é que poderia ser feito algo melhor, mas, como faltou planejamento e projeto pedagógico, treinamento e distribuição de equipamentos, a situação é alarmante e o Brasil vive um apagão educacional neste momento. Os alunos não estão aprendendo, muitas escolas e redes públicas fingem que ensinam. Mas os estudantes concretamente nunca vão fingir que estão aprendendo”, analisa Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP.
Matheus tem 19 anos, mora em Vitória e estuda numa escola estadual.
“Desde que a pandemia começou, eu meio que, no início, estava meio parado, porque não tinha acesso total às atividades e às salas virtuais que a escola criou, porque eu não tenho computador, não tenho celular. Literalmente é só meu pai que tem celular aqui dentro”, explica o estudante Matheus Castilho.
É um problema frequente. Em São Paulo, dos 3,5 milhões de alunos da rede estadual, menos da metade acessou a plataforma criada pelo governo para aulas à distância.
Mesmo assim, 16 estados planejam contar essas aulas à distância na carga horária do ano letivo. É o que mostra um levantamento feito pelo G1. Sete estados e o Distrito Federal já definiram que as atividades não vão contar para o ano letivo. Pernambuco ainda não definiu. Rio de Janeiro e Rondônia não responderam.
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“Quando a gente conseguir resolver, equacionar a situação da pandemia no Brasil e puder sair do isolamento social, aí as secretarias de Educação vão ter que lançar mão de várias alternativas, entre elas atividades complementares e, principalmente, a reposição de aulas, que vai exigir que o ano letivo de 2020 avance para 2021. É preciso garantir o direito à educação para todas e todos, não dá para escolher alguns, não dá para priorizar aqueles que têm acesso a equipamentos tecnológicos, à internet banda larga”, avalia Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP.
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo declarou que trabalha para não deixar nenhum aluno para trás neste processo de aprendizagem; que oferece a todos os estudantes o aplicativo para acesso a aulas online com internet gratuita; e que também transmite aulas ao vivo por canais da TV digital e redes sociais.
A Secretaria da Educação de Vitória afirmou que as atividades pedagógicas não presenciais, oferecidas pelo programa escolar, não vão contar como dia letivo, e que, para os alunos sem acesso à internet, escolas estão adotando outras opções, como fornecer atividades impressas.
Fonte: “G1”