Das 27 medalhas que levaram o Brasil ao 1º lugar, 25 são de estudantes da iniciativa
Fã de carros, Luís Carlos Sanchez Junior, morador de Bauru, em São Paulo, nunca imaginou que a curiosidade de trocar peças no antigo veículo de seu pai o levaria a ganhar o título de “Melhor do Mundo” na principal competição internacional de ensino técnico, a WorldSkills. E ele não estava sozinho. O Brasil, pela primeira vez na história, conseguiu atingir o topo do pódio com 27 medalhas. A geração de vencedores tem uma origem em comum: 25 medalhistas vieram do Pronatec, programa que desde julho não tem tido tantas vitórias, com a redução no seu número de vagas e mudanças em suas regras.
— A vitória do Brasil no WorldSkills é uma vitória do Pronatec. Isto muda o papel da educação profissional no país. Não faz mais sentido pensar que ela é inferior. Nossos esforços foram consagrados internacionalmente. Os caminhos entre a educação e o mundo do trabalho só vão crescer — defende Renato Janine, ministro da Educação.
No caso de Luís, o ensino técnico realmente mudou sua vida. Aos 12 anos, o garoto estudava e fazia bicos numa fábrica de doces. Ao visitar uma unidade do Senai com um amigo, viu qual caminho queria seguir.
— Quando vi o que eles faziam com os carros, eu pensei “Bicho, vou fazer isso”. Em uma semana tendo aula já fui indicado para um trabalho em uma empresa de ônibus. Quando terminei o curso, o Senai me chamou para participar das competições de Tecnologia Automotiva — conta o jovem.
Ritmo intenso de estudos
O caminho até a competição internacional foi longo. Cada unidade escolar faz uma seletiva entre seus alunos para disputar uma olimpíada estadual, que seleciona competidores para a edição nacional. É desta última que os participantes do WorldSkills são escolhidos. A prova também não é nada fácil. Na categoria de Luís, por exemplo, são cinco fases que simulam falhas em um veículo, e o aluno deve resolvê-las em três horas. No módulo sobre problemas eletroeletrônicos em carros, por exemplo, a prova tinha mais de 30 falhas para serem resolvidas em três horas. Competindo com alunos de 41 países, Luís foi campeão na sua categoria e teve uma pontuação tão alta que foi o melhor do país e ficou empatado com outros dois competidores de outras categorias como melhor do mundo.
— Ainda não caiu a ficha. Foi uma rotina de três anos muito árdua. Treinava de domingo a domingo, tive que sair de Bauru, batia saudades da família… Hoje (ontem) estou até meio estranho, é o primeiro dia que não tenho qualquer obrigação — conta ele, que já começou a receber propostas de trabalhos.
O resultado — de Luís e dos outros 26 medalhistas — mostra uma nova cara do ensino técnico em meio à crise de seu principal programa, o Pronatec.
— Isso mostra que o Brasil sabe fazer uma educação profissional de excelência, mas ainda temos um contingente pequeno de jovens que fazem essa escolha. Em países desenvolvidos, a média é 50%. Aqui é em torno de 10% — afirma Rafael Luchesi, diretor-geral do Senai, destacando a função do Pronatec para este resultado. — A produtividade do Brasil cresce com o ensino técnico. Precisamos fortalecer o Pronatec, transformá-lo em política de estado. Tivemos um corte muito drástico de verba para o programa este ano, mas esperamos que a meta de 12 milhões de inscritos até 2018 continue.
Fonte: O Globo
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