Cerimônia entregou 501 medalhas a estudantes de todo o país, com presença de ministros da Educação e Ciência, Tecnologia e Inovação
Não havia tapete vermelho, mas o burburinho era grande em frente ao Teatro Municipal do Rio, na tarde desta segunda-feira. Parentes e entusiastas fizeram barulho para os estudantes de todo o país que chegavam ao local para o recebimento das 501 medalhas de ouro entregues pela 10ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP 2014), promovida pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Não era para menos. As medalhas foram disputadas por mais de 18 milhões de alunos de escolas públicas e, em muitos casos, representavam mais que o domínio da disciplina. A estudante Hevelyn Nunes da Rocha, de 16 anos, veio da cidade mineira de Santa Maria do Suaçuí, no Vale do Jequitinhonha, para receber seu primeiro ouro. A Matemática representa, para ela, um de seus maiores motivadores.
— Minha mãe saiu de casa quando tinha 8 anos. Fiquei triste e sozinha, mas gostava de estudar. Então, encontrei na Matemática a força para superar os desafios — contou a menina criada pelo pai, que trabalha como pedreiro.
Aluna do 1º ano, ela já havia conquistado dois bronzes e uma prata. Sem internet em casa e com acesso reduzido na escola, ela precisa ir à casa da prima quando quer usar a rede. Mas isso não a desanima.
— Meu sonho agora é me classificar para uma rodada internacional de olimpíada de Matemática — planeja.
Também estavam lá as trigêmeas Fabíola, Fabiele e Fábia Loterio, de 15 anos, que conquistaram juntas a medalha de ouro. Filhas de agricultores, elas moram em uma casa sem internet no distrito de Rio do Norte, em Santa Leopoldina, no Espírito Santo, a 21 quilômetros da escola onde estudavam.
— Estávamos acostumadas com a matemática tradicional. Com as olimpíadas, conhecemos um lado muito mais interessante — contou Fábia, cheia de timidez. — Agora, a gente fica até entediada em aulas convencionais.
Projeto educacional
Diretor-geral do Impa, César Camacho, lembrou que a prova deixou de ser uma competição, para ganhar o status de um projeto de educação.
— O estudante pode até ter reconhecimento em sua cidade. Mas, quando ganha uma medalha, sabe que é competitivo em nível nacional, e vê como algo natural estudar nas melhores universidades do país — dimensionou, acrescentando a perspectiva de que o exame seja ampliado para os alunos do 4º e do 5º ano do ensino fundamental.
A cerimônia também foi acompanhada pelo vencedor da Medalha Fields, Artur Ávila, que mais cedo falou diretamente aos alunos.
— Contei como foi comigo e qual o papel das olimpíadas nesse percurso, já que me levaram ao contato com pesquisadores e ao Impa — relatou.
Perguntado sobre os recentes cortes de verba na educação brasileira, Ávila pontuou sua preocupação:
— Espero que sejam cautelosos. Estávamos em um momento muito bom da pesquisa. O país estava bem no exterior e atraindo muitos estrangeiros. Não se pode sacrificar algo tão estrutural.
A situação foi comentada pelo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, que participou da entrega das medalhas.
— É difícil manter todos os investimentos, porque a arrecadação está menor. Mas isso não nos impede de nos preparar para que, tão logo a economia recupere o viés de alta, recuperarmos os programas adiados — avaliou.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, também comentou o quadro referente à sua pasta.
— Não houve corte em nenhum programa essencial. Nenhuma bolsa já comprometida deixará de ser paga. Os cortes podem afetar programas que faríamos e não teremos condição de fazer — afirmou, emendando que solicitou à presidente Dilma a inclusão de obras referentes a Ciência e Tecnologia no PAC.
Fonte: O Globo
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