A queda de um asteroide na Rússia e a passagem de outro, ainda maior, bem perto da Terra, no dia seguinte, é algo
assustador. Para quem não sabe, estima-se que exista uma chance em 10.000 de que um grande asteroide ou cometa (com diâmetro maior que 2 km) colida com o nosso planeta ainda neste século, desmantelando a biosfera e
matando uma larga fração da humanidade. Especialistas estimam ainda que a queda de um corpo celeste medindo apenas 140 m de diâmetro já seria suficiente para provocar danos terríveis à vida na Terra. Como esses corpos menores são bastante abundantes no espaço, a chance de um choque é muito maior.
Apesar dos riscos nada desprezíveis, não há sinal de qualquer plano multilateral para proteger a humanidade dessas catástrofes, ainda que o poder destrutivo de um grande asteroide seja infinitamente maior que a pior hipótese de aquecimento global, por exemplo. Como é pouco provável que os próceres da “governança global” não estejam cientes disso, a questão que se coloca é: por que tanta paranoia com o clima e tanto descaso com uma ameaça muito maior?
A questão se torna ainda mais intrigante porque as chances de sucesso de um projeto de rastreamento e deflexão de objetos celestes potencialmente perigosos para a vida terrestre seriam muito maiores que a luta inglória contra o aquecimento global. E as chances aumentariam exponencialmente se houvesse uma real cooperação internacional, não apenas em termos de recursos, mas também no desenvolvimento de novas tecnologias. Quanto mais observatórios estiverem varrendo o céu, tanto em terra quanto em órbita do planeta, quando mais gente estiver estudando a coisa em profundidade tentando descobrir soluções viáveis, maiores serão as perspectivas de que possamos evitar o pior.
Ademais, os recursos necessários para o desenvolvimento de programas anticolisão seriam irrisórios, pelo menos se comparados à dinheirama que pretendem embolsar com o apocalipse climático. Sim, os custos estimados para salvar o planeta de um asteroide seriam modestos, bem abaixo das expectativas megalômanas da guerra contra o clima.
Uma das explicações possíveis para tamanha inversão de prioridades pode estar na ideologia. Diferentemente do aquecimento global, o risco de colisão de corpos celestes com a Terra não admite qualquer suposição de vilania do capitalismo. Por que, afinal, os famosos “melancias” e suas indefectíveis ONGs perderiam tempo com uma questão cuja culpa não pode ser imputada à ganância capitalista ou à famigerada sociedade de consumo?
Finalmente, aquela que talvez seja a razão mais forte: para salvar o planeta de um asteroide qualquer, não seria preciso ensinar-nos como devemos viver as nossas vidas, se devemos andar menos de carro, viajar menos de avião, economizar a água da descarga ou do banho, construir casas ecologicamente corretas, não fumar, não comer carne vermelha, banir os combustíveis fósseis, etc. Afinal de contas, políticos e burocratas não se contentam apenas em nos cobrar cada vez mais impostos. Eles têm uma necessidade atávica de planejar o mundo nos mínimos detalhes. Enfim, pouco lhes interessa investir em catástrofes cujas soluções não sirvam para limitar ainda mais a nossa liberdade.
Fonte: O Globo, 14/03/2013
De fato! Se não dá para culpar terceiros… fazer o quê?