Lula não fez por mal. Ele é amigo de todo mundo. Já deu tapinha nas costas de Marmoud Ahmadinejad. E Judas nunca disparou um míssil nuclear clandestino. Não pode ser tão mau assim.
Um dia, Lula acordou invocado e ligou pro Bush. Questões de Estado se resolvem assim, com um telefonema e três piadas. Por isso o general Muammar Kadafi também é amigo do presidente brasileiro. E os terroristas das Farc ganharam acesso direto ao Palácio do Planalto.
Não pensem que se trata de uma grande conspiração de forças obscuras. Nada disso. Tudo é festa na DisneyLula.
Ele é o filho do Brasil. É o homem que sobreviveu ao companheiro Delúbio, ao companheiro Valério, ao companheiro Silvinho, ao companheiro Dirceu, aos companheiros Bargas, Lorenzetti, Valdebran e Gedimar. Quem Judas pensa que é?
Lula, o filho do Brasil, erradicou o mal. Sarney, Calheiros, Collor e companhia circulam alegres na sua aba, beneficiados pela imunidade moral do presidente. Estar com Lula é estar com Deus. Se bem que este último já já sai de moda.
Historiadores e teólogos se debruçam neste exato momento sobre os alfarrábios para ver se Judas alguma vez travou a restituição do imposto de renda, para gastar em campanha eleitoral fora de hora. Os estudiosos não querem retocar a biografia do traidor de Jesus. Só querem verificar se na Roma antiga uma trapaça dessas também ficava por isso mesmo.
O Brasil sairá da era Lula um pouco mais bagunçado. Um pouco mais unido também. Talvez nenhum outro líder nacional tenha sido tão representativo, e isso é um fato positivo. Também é fato que se trata de um presidente desestimulador de crises, com seu jeito de governar como se estivesse tomando uma cerveja depois da pelada.
Se vier por aí a filha do filho do Brasil, talvez os brasileiros tenham saudade da camaradagem entre Lula e Judas. A mulher-dossiê, alma gêmea do Iscariotes, não dá samba, nem filme-exaltação. No máximo, um roteiro de suspense.
(Publicado em Época – 24/10/2009)
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