Finalizada a apuração das urnas, podemos fazer uma análise mais detalhada de seus resultados. Em primeiro lugar, a maior derrotada de todas: a credibilidade dos institutos de pesquisa. Todos eles erraram, e erraram feio em alguns casos. O Vox Populi, por exemplo, apontava ampla margem de segurança para Dilma vencer já no primeiro turno. Marcos Coimbra deve explicações ao público. Seria apenas incompetência ou houve manipulação deliberada para ajudar a candidata preferida?
A lição importante é que os “oráculos” devem ser vistos com maior ceticismo e desconfiança, pois falham, e muito. O senador mais votado em São Paulo, por exemplo, foi o tucano Aluísio Nunes, que nem sequer estava entre os dois primeiros nas pesquisas. Os erros grosseiros dos institutos de pesquisa não mereceriam maior atenção, não fosse o caso de exercerem real influência nas campanhas e alianças dos candidatos, assim como nos votos dos eleitores. A “margem de erro” mostrada nas pesquisas deveria ser aumentada para retratar melhor a ignorância das pesquisas acerca da realidade.
Por outro lado, a grande vitoriosa das eleições foi, sem dúvida, Marina Silva, do PV. Com quase 20% do total de votos válidos, Marina se tornou uma nova força política que deve ser levada em conta. O assédio tanto de petistas como de tucanos no minuto seguinte aos resultados já mostra como o apoio do PV passou a ter peso de ouro. A “onda verde” conquistou muitos adeptos, e não é fácil identificar quais características cada um buscou neste voto. A questão ética teve seu peso, assim como a bandeira ecológica. Mas a verdade é que Marina ainda representa uma incógnita quando se trata de programa de governo na prática.
Aécio Neves foi outro grande vencedor nas eleições. Conseguiu a vitória folgada já no primeiro turno de Anastasia, assim como puxou Itamar Franco junto para o Senado. Saiu como o grande nome de oposição ao governo Lula. O que chama a atenção é a baixa quantidade de votos de José Serra em Minas Gerais, com pouco mais de 30% do total. Claramente Aécio não se empenhou o suficiente para ajudar o aliado tucano. Ele deve ter seus motivos. Mas uma parceria mais efetiva no segundo turno pode ser fundamental para ajudar Serra a virar o jogo.
Uma vencedora que merece aplausos nesta eleição é a imprensa livre, que cumpriu seu papel investigativo. Muitos estão colocando todo o mérito do segundo turno em Marina, esquecendo como os escândalos descobertos pela imprensa, especialmente a revista Veja, colaboraram para este resultado. É esta mesmo a função dos veículos de comunicação. Quando a imprensa se curva ao governo, já estamos a um passo de um regime ditatorial. Por isso a total liberdade de imprensa é fundamental para a democracia. E agora, com o segundo turno, os eleitores ganharam o direito de cobrar respostas dos dois candidatos, incluindo explicações melhores de Dilma sobre os casos de corrupção dentro da Casa Civil.
Outro grande vencedor das eleições, infelizmente, foi o fisiologismo tão bem representado no PMDB, o partido mais amorfo de todos. O PMDB passa a ter 19 cadeiras no Senado, bem acima do segundo maior, o próprio PT, com 13 assentos.
Pouco muda nesse aspecto: qualquer um continua necessitando do PMDB para governar o país. A base aliada de Dilma conseguiu ampla maioria no Senado, e isso representa um risco de mudança constitucional que não deve ser ignorado. Mas, se o candidato José Serra conseguir virar a mesa e vencer, tarefa que não é impossível, boa parte do PMDB migraria para a nova chapa. O partido tem uma atração incrível pela situação, especialmente se isso significar muitos cargos em estatais e ministérios.
Um resultado que merece comentário é o fenômeno Tiririca, com mais de um milhão e trezentos mil votos no total. Somente Enéas conseguiu maior façanha na captura dos votos de protesto. A mensagem que esses eleitores tentaram passar não é tão clara, pois o puro deboche ou mesmo ignorância podem explicar parte da escolha. Mas muitos deles, sem dúvida, usaram Tiririca como um recado para os políticos de forma geral: enquanto tantos políticos continuarem tratando os eleitores como palhaços, os verdadeiros palhaços serão eleitos como políticos. Não deixa de ser um protesto legítimo; o problema é que o tiro sai pela culatra quando se percebe que tudo não passa de uma estratégia dos piores políticos para a captura indireta de votos.
Por fim, o grande derrotado nas eleições foi o debate sério, voltado para questões importantes dos respectivos programas de governo. Chavões vazios, promessas irrealistas, acusações mútuas, tivemos de tudo, menos propostas concretas sobre os principais problemas que assolam o país. Reformas como a previdenciária, a tributária, a trabalhista e a política sequer foram apresentadas de verdade. A qualidade do debate foi muito ruim. Espera-se que a oportunidade do segundo turno possa mudar isso.
Mas é preciso ser realista: sem um povo educado e voltado para estas questões, o populismo demagógico continua falando mais alto. Está na hora do povo brasileiro exigir um governo melhor, para merecer um governo melhor. Isso começa justamente nos debates entre os candidatos. Os eleitores devem cobrar propostas efetivas, que explicam como as metas serão atingidas, de onde vem os recursos para os programas etc. A razão precisa dominar a emoção. Os eleitores precisam amadurecer e fazer sua parte. Ainda estamos longe desta realidade.
Fonte: Revista “VOTO”
Não há liberdade sem imprensa livre, porém, a nossa, ou as grandes, tem lado. No entanto o escândalo da receita ocorrida em 2009 so teve a repercussão no período das eleições, porque será? Porque não se divulgaram o escândalo do governo Tucano do RS?
Carlos