Pesquisa do BC com mercado financeiro vê crescimento de apenas 0,03%
A presidente Dilma Rousseff afirmou, nesta segunda-feira, que não haverá recessão e que o ajuste para o reequilíbrio fiscal será gradual. No entanto, analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central (BC) na pesquisa semanal Focus reduziram pela quinta vez consecutiva as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) para este ano, e há quem já preveja retração. No boletim Focus, as estimativas de expansão da economia passaram de 0,13% para apenas 0,03%. A previsão para 2016 também foi cortada: de 1,54% para 1,5%, a segunda redução seguida.
O Itaú é uma das instituições que esperam retração este ano. “Reduzimos nossa projeção do PIB para retração de 0,5% em 2015”, informaram os economistas da equipe de Ilan Goldfajn, diretor de pesquisa econômica do Itaú. “Estimamos que um racionamento conjunto de água e energia elétrica teria um efeito adicional sobre o crescimento do PIB de -0,6 pontos percentuais”.
Racionamento: queda de 1,5%
Apesar da mensagem otimista da presidente, economistas ouvidos por “O Globo” veem com ceticismo o cenário para o crescimento econômico e as contas públicas neste ano. Para o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, será impossível evitar a recessão:
— O país vai passar por uma recessão que é consequência de uma política macroeconômica desastrosa e de uma política microeconômica desastrosa, em que o pior exemplo é a condução do setor da energia.
Ele cita entre os “desastres macroeconômicos” a deterioração do cenário fiscal, a redução drástica dos juros durante o primeiro mandato de Dilma e uma comunicação ao mercado, por parte do BC, que considera contraditória.
O professor da USP Fabio Kanczuk vê uma possibilidade grande de recessão, sobretudo, se for confirmado o racionamento de energia. Nesse caso, calcula, o PIB poderia recuar até 1,5% neste ano.
— Mesmo que (o crescimento) seja positivo, será um crescimento medíocre. Faz parte do discurso do governo criar um certo otimismo e dos economistas de mostrar por modelos que não será exatamente assim — afirma.
Focus vê inflação a 7,01%
Atingir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB, como anunciado pelo ministro Joaquim Levy, também é considerado pouco provável. Para ambos, as medidas já anunciadas vão na direção correta, mas um esforço fiscal dessa magnitude se torna mais difícil diante do déficit primário de R$ 32,5 bilhões no ano passado, da rigidez orçamentária e das restrições políticas.
— Estamos subindo uma ladeira escorregadia, em que vai ser preciso fazer contingenciamentos, mais impostos e reversão de desonerações. Não é impossível, mas é muito difícil chegar a 1,2% — afirma Schwartsman.
Kanczuk discorda que esteja sendo implementado um ajuste gradual, como disse Dilma. Ele estima que o esforço fiscal fique em 0,7% neste ano.
Além de um cenário de estagnação, as estimativas de inflação para este ano do Focus ficaram, pela primeira vez, acima de 7%. Analistas projetam que o IPCA, usado na meta de inflação do governo, fique em 7,01%, contra 6,99% na semana anterior. Isso devido à alta esperada para os preços administrados — como energia elétrica e combustíveis —, cuja expectativa passou de 8,7% para 9%, a oitava revisão seguida para cima. Os analistas incorporaram a previsão, do próprio BC, de que a conta de luz ficará 27,5% mais cara este ano.
Em relação aos juros, o mercado continua a ver a taxa básica, a Selic, em 12,5% ao ano no fim do ano. Isso significa que os analistas esperam mais uma elevação de 0,25 ponto percentual — e, por enquanto, acreditam que o BC interromperá o ciclo de altas por aí. Para 2016, a expectativa é de um ligeiro alívio, com a Selic fechando o ano a 11,5%.
Fonte: O Globo
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