Com a atividade começando o ano em marcha lenta, economistas voltam às suas planilhas para rever estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e em 2018. Após a queda em janeiro de 0,56% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em relação a dezembro, feito o ajuste sazonal, analistas que começaram o ano mais otimistas já revisam para baixo suas projeções, enquanto os pessimistas se sentem mais seguros em suas estimativas. Um crescimento de 3%, por exemplo, ficou mais difícil de ser alcançado.
A baixa do IBC-Br no primeiro mês do ano interrompeu sequência de quatro meses de avanços, mas já era esperada, após um dezembro forte (1,16%, revisado de 1,41%). Segundo economistas, embora o recuo em janeiro não ameace a expectativa de continuidade da retomada este ano, a queda conjunta na produção industrial, varejo ampliado e volume de serviços levanta dúvidas quanto à intensidade dessa recuperação. No boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC), as estimativas do mercado para o PIB em 2018 foram reduzidas pela segunda semana seguida. A mediana das projeções, que havia caído de 2,90% para 2,87%, recuou agora para 2,83%.
Ainda assim, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reiterou a estimativa da equipe econômica de um crescimento de 3% para o PIB este ano. “O índice [IBC-Br] mostrou um crescimento grande em dezembro, e acreditamos que janeiro foi um ajuste natural, mas mantemos nossa projeção de 3% do PIB”, disse ele, em Buenos Aires.
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Economistas do setor privado, contudo, já colocam esse número em xeque, como a A.C. Pastore & Associados, consultoria do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore. “Os números do desempenho da indústria, do comércio e dos serviços referentes a janeiro foram extremamente negativos, ainda que possamos creditar parte da contração da atividade à forte elevação verificada em dezembro do ano passado, sendo natural alguma correção”, observa a A.C. Pastore, em relatório.
“Os indicadores coincidentes referentes a fevereiro apontam para elevação da produção industrial e das vendas reais no comércio, corroborando que a recuperação ainda prossegue. Mas os dados disponíveis nos levam a uma estimativa de crescimento em torno de 0,5% no primeiro trimestre”, pondera a consultoria.
Nesse cenário, para que a expansão em 2018 fique em 3% seria necessário o PIB avançar a uma média de 1,5% nos três trimestres seguintes, o equivalente a uma alta anualizada de 5,9%, calcula a A.C. Pastore. “Visto de hoje, taxas tão elevadas parecem pouco prováveis”, afirma a consultoria, embora ainda não tenha revisado a sua previsão de 3%.
O Itaú Unibanco avalia que o IBC-Br de janeiro traz viés de baixa para sua estimativa de uma alta de 1% para o PIB do primeiro trimestre, na margem. “Deve ficar mais próximo de 0,5%”, afirma Artur Manoel Passos, economista do banco. O Itaú manteve inalterada sua projeção de 3% para o PIB este ano, mas avalia que o risco de redução da estimativa cresceu. “Tem mais riscos de baixa, mas é um cenário que ainda pode ser atingido, devido aos juros em patamar expansionista, conjuntura global favorável e melhora do balanço de empresas e famílias”, diz Passos.
Uma das consultorias mais otimistas com relação ao crescimento em 2018, a Pezco avalia que já é hora de revisar para baixo sua estimativa de 3,9% para o PIB este ano. “Tanto comércio como serviços e indústria estão num passo um pouco mais lento do que o esperado”, diz Yan Cattani, da Pezco. Segundo ele, a nova estimativa deve ficar mais próxima dos dos 3% do que dos 4%, embora o número ainda não tenha sido fechado. A projeção para o primeiro trimestre, de 0,9%, também deverá ser revista.
No extremo mais pessimista, o Haitong avalia que o IBC-Br de janeiro confirma a percepção de que será difícil para o Brasil entregar um crescimento substancial em 2018. Os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano lembram que, para ter uma performance no ano compatível com um PIB de 2,83%, o indicador do BC teria que registrar um crescimento médio mensal de 0,4%, ou 4,6% anualizados. Já para um PIB de 2,2%, como esperado pelo Haitong, o crescimento mensal médio necessário seria de 0,26% – ou 3,2% anualizados -, o que parece mais viável.
Apesar das revisões baixistas, os economistas são unânimes em afirmar que a trajetória de retomada não está comprometida. “Na nossa visão, não há nenhuma chance de esse cenário [de recuperação] ser prejudicado”, afirmam Santos e Serrano, em relatório. “Apesar de menos agudo do que a maioria dos nossos colegas gostaria, continuamos a ver o PIB brasileiro seguindo uma tendência de alta consistente nos próximos trimestres”, dizem.
Para Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, o ciclo de recuperação está se firmando e se ampliando, apoiado na baixa inflação, condições de crédito gradualmente menos rigorosas, progresso na redução do endividamento das famílias, gradual recuperação do investimento privado, melhora da confiança dos empresários e consumidores, além da criação de empregos formais.
A A.C. Pastore também diz não haver dúvidas de que a tendência continua a ser de crescimento da atividade. “O BC vem conseguindo estimular a economia, quer através da redução da taxa de juros, quer desobstruindo o canal de crédito, com o avanço da importante agenda de redução dos spreads”, diz a consultoria, acrescentando que “o crescimento global maior e mais espalhado” também ajuda a economia brasileira. No entanto, há alguns fatores que contribuem para explicar uma possível frustração com a retomada, segundo a A.C. Pastore: “O menor número de trabalhadores com carteira assinada, a situação financeira das empresas e a incerteza com relação ao quadro político/fiscal”, enumera.
Para Passos, do Itaú, os principais riscos ao crescimento neste ano são o surgimento de dúvidas na evolução das reformas estruturais após as eleições e mudanças no cenário externo favorável. “Se houver confiança dos agentes de que as reformas vão avançar, não haverá problemas, mas, se houver dúvidas, pode haver impacto na atividade, inclusive na segunda metade de 2018”, afirma ele.
Fonte: “Valor Econômico”