Este é o artigo número 900 da série semanal inaugurada em 2001 no “O Estado de S. Paulo”. Contando desde 1987, início da minha atividade em jornais, são mais de 1.500 artigos sobre seguros publicados no “O Estado de S. Paulo” (1987 a 1989 e de 2001 até hoje) e na “Folha de S. Paulo” (1989 a 2001).
Ao longo destes mais de 30 anos tratando do tema seguros tive a oportunidade de escrever os mais variados artigos, abordando todo o setor, procurando passar para o leitor o que é, como funciona e para que serve essa ferramenta que há mais de 4 mil anos tem se mostrado a mais eficiente forma de proteção social.
Seguro é negócio. Tanto que a maioria das seguradoras é sociedade anônima, ou seja, companhias que devem dar lucro para remunerar os seus acionistas.
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Por outro lado, a operação de seguro tem forte conotação social, já que sua razão de ser é recompor patrimônios e capacidades de atuação afetados por eventos aleatórios que atingem os segurados.
A operação de seguros se baseia em princípios fundamentais para o desenvolvimento equilibrado da sociedade. Entre eles, vale destacar a proteção e o desenvolvimento social, solidariedade, prevenção, divisão das perdas, geração de poupança, mutualismo para a constituição de um fundo comum com finalidade específica, etc.
O seguro tem na sua origem as qualidades para impulsionar e garantir ao ser humano o constante desenvolvimento de suas expectativas de vida. Para se entender isso basta comparar a realidade dos países ricos e dos países pobres. A população dos países ricos tradicionalmente contrata mais seguros do que os habitantes dos países pobres. Um bom exemplo é que em 2017 as seguradoras assumiram mais de 130 bilhões de dólares em indenizações decorrentes de perdas causadas por fenômenos de origem natural porque boa parte dos eventos atingiu os EUA.
Enquanto os norte-americanos tinham a proteção do seguro, as regiões do Caribe e do México, também vítimas de furacões e terremotos, não tinham esta proteção, quer dizer, o grosso dos prejuízos suportados por elas ficará por conta do governo ou da própria população.
Os norte-americanos, ao receberem as indenizações pagas pelas seguradoras, manterão sua capacidade de bancar novos investimentos, já que as perdas sofridas lhes serão reembolsadas. Já o México e as ilhas do Caribe serão obrigados a desviar recursos destinados a novos investimentos para reconstruir o que foi destruído. Ou seja, enquanto os Estados Unidos continuam ricos e geram novas riquezas, os outros ficam mais pobres.
O Brasil lamentavelmente não tem tradição de contratação de seguros. Ao contrário, ainda estamos no patamar da maioria dos países em desenvolvimento. Menos de 30% da frota de veículos é segurada. A maioria das empresas não tem seguros adequados. Milhões de imóveis não possuem qualquer tipo de apólice. O grosso dos transportes é feito sem seguro. Os planos de saúde privados atendem ¼ da população e os seguros de pessoas protegem menos de 20% das famílias brasileiras.
É este o cenário dos meus artigos. Cenário que precisa ser explicado, entendido e, com o tempo, modificado. Seguro é investimento, seguro não é despesa. Esta verdade começa a fazer sentido para a sociedade brasileira.
Até 1994, a participação do setor na economia não atingia 1% do PIB. Atualmente estamos perto de 5%. Em pouco mais de 20 anos a contratação de seguros no País cresceu vertiginosamente. E ao longo dos próximos cinco anos tem espaço para dobrar de tamanho.
As razões para isso são o amadurecimento da sociedade e a profissionalização das seguradoras e dos corretores de seguros. A convergência entre a necessidade de proteção e a oferta de apólices modernas resistiu inclusive à recessão profunda que afetou o País. Agora começa a hora da retomada do crescimento econômico e, junto com ela, deve acontecer o aumento da demanda por seguros.
Continuaremos explicando, dando visibilidade e divulgando um setor cuja razão de ser é a garantia da sociedade. Muito obrigado a você, leitor.
Fonte: “Estadão”, 19/03/2018