Extrair de alguém seu potencial é o significado etimológico de ‘educar’. Não é tarefa simples. Por exemplo, os dados nos mostram que uma ‘solução’ simples, como a de aumentar o gasto público por estudante, não significa, necessariamente, um melhor desempenho deste em indicadores como o IDEB. Como dizem: questões complexas têm soluções simples que, geralmente, estão erradas.
Bons mestres sabem que extrair o potencial de um estudante não é tarefa simples. Exige uma gestão cuidadosa de vários recursos. Desde o planejamento das aulas, passando pela elaboração dos conteúdos, à sua adaptação para uma sala de aula em que os alunos são tão diferentes entre si. A tarefa de um professor não é, de modo algum, trivial.
Bons mestres, portanto, são aqueles que adicionam valor ao aprendizado do estudante. Esse impacto é sempre mencionado nos discursos de cerimônias de formatura como um ativo valorizado pela direção da escola, pais e pelos próprios alunos. E não há quem não guarde, com carinho, a recordação daquele professor que lhe abriu os olhos para esse ou aquele aspecto da realidade.
A proposta que detalhamos na 7ª edição do Millenium Papers, intitulado Grandes Mestres Fazem Grandes Diferenças? é a de que essa valorização deve estar alinhada com o desempenho dos alunos. Não de forma puramente retórica, mas com o uso de evidências.
Parte-se da constatação de que diferentes professores geram diferentes resultados em termos de educação do aluno. O termo técnico é valor adicionado do professor (VAP). Professores de alto ou baixo desempenho, nesse sentido, são aqueles que adicionam mais ou menos valor ao aprendizado do aluno. Pesquisas mostram que professores se diferenciam bastante no critério do VAP.
No artigo, fazemo-nos a seguinte pergunta: o que acontece com o futuro de um estudante que tem sua educação nas mãos de um professor de baixo desempenho (que está entre os 10% piores na agregação de valor ao aprendizado do aluno) se ele for transferido para os cuidados de um professor com um VAP médio? Em nosso exercício, isso resulta em um aumento de 8,05% na remuneração do estudante para o resto de sua vida.
Quanto isso significa em reais? Isso se traduz em um ganho adicional de R$ 34 mil reais na renda futura do aluno. Considerando, para simplificar, que esta troca dos 10% professores de baixo desempenho atinja apenas 10% dos alunos matriculados nos ensinos fundamental e médio da rede pública brasileira (cerca de 2.869.423 de alunos), o ganho adicional agregado seria de R$ 98,6 bilhões.
Observe o leitor que esses números traduzem apenas a estimação do ganho privado do aluno. Como sabemos, a educação gera ganhos privados e ganhos sociais, de forma que, mesmo os R$ 98,6 bilhões subestimam os impactos esperados. Afinal, um aluno melhor educado será um cidadão mais produtivo e, portanto, poderá usar melhor o seu tempo. Isso pode significar mais produção ou consumo de cultura, ou mesmo produção de novas tecnologias. Também significa um cidadão que tem condições de cuidar melhor de sua saúde, melhorando também os indicadores desta natureza. Todos esses impactos adicionam-se aos R$ 98,6 bilhões calculados.
O nosso e exercício toma por base dois pressupostos: (a) o de que se pode medir o desempenho dos professores e, (b) o de que se pode substituir professores de baixo por aqueles de médio desempenho.
O primeiro pressuposto encontra suporte na realidade. A gestão escolar, ao longo dos anos, tem buscado medir o desempenho dos professores. Mesmo que essas mensurações nem sempre capturem o valor adicionado dos mestres, há os acadêmicos, que têm aperfeiçoado, cada vez mais, as ferramentas que permitem uma mensuração mais precisa do VAP.
Já no que diz respeito à substituição de professores de baixo desempenho (VAP baixo) pelos de desempenho médio (VAP médio), pensamos que há espaço para se implementar melhorias. Nossa proposta é que se reformule a avaliação do estágio probatório dos professores, não contratando professores de baixo valor adicionado.
Alternativamente, pode-se pensar em um plano de desenvolvimento para aumentar o desempenho dos que se apresentarem insatisfatórios. E, de forma complementar, seria justa a criação de uma gratificação variável que valorizasse os professores de acordo com a sua contribuição para o aprendizado do aluno.
A sociedade brasileira envelhece a cada ano. Casais têm menos filhos e a educação destes não custa pouco. Um aluno submetido a um professor que lhe extraia pouco de seu potencial é um aluno que não alcançará altos níveis de produtividade no mercado de trabalho. É claro que uma mudança na forma como valorizamos os bons mestres pode fazer toda a diferença.
Crianças de hoje são os futuros profissionais liberais ou servidores públicos responsáveis pelo atendimento das necessidades da sociedade brasileira. Melhorar a educação dos alunos é melhorar o futuro de todos.
Não se trata apenas de retórica: estamos falando de, aproximadamente R$ 98,6 bilhões a mais na vida das pessoas. Um deles pode ser o seu filho.