As medidas de suporte ao sistema energético no Brasil durante a pandemia de Covid-19 não possuem como contrapartida a sustentabilidade do meio ambiente e o fomento por uma matriz energética mais limpa. A conclusão faz parte do estudo “Energy Policy Tracker”, lançado nesta quarta-feira pelo centro de pesquisa canadense International Institute for Sustainable Development (IISD), com apoio de 14 organizações de todo o mundo, entre elas o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
O painel vai monitorar como os países estão apoiando o setor energético diante dos efeitos da crise gerada pela Covid-19 nos países do G20, conhecido como grupo dos países ricos do mundo. No Brasil, 27 políticas energéticas foram identificadas: dez voltadas para combustíveis fósseis, sete para fontes limpas e outras dez envolvendo demais tipos de políticas, como a tarifa social de energia.
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O objetivo do painel é verificar se os recursos financeiros aplicados pelos governos em todo mundo estão ou não mais aderentes às diretrizes de sustentabilidade, a partir do suporte em energias renováveis e criação de contrapartidas. A cobrança por uma agenda verde tem sido cada vez mais demandada por empresários nacionais e internacionais.
Socorro de R$ 135 bi
Os primeiros resultados mostram que, entre o começo da pandemia no início de 2020 até 1º de julho, os países do G20 comprometeram US$ 135 bilhões em combustíveis fósseis, contra US $68 bilhões, ou metade dos investimentos, em energia limpa, na criação de estímulos e pacotes de recuperação na economia.
No Brasil, o cenário se repete. Apesar de ter uma matriz energética diversa e mais limpa, na comparação com outros países, as medidas para socorrer o setor energético, principalmente as energias “sujas”, não vieram com contrapartida, afirma o estudo.
– O Brasil até agora não mostrou nenhuma política com contrapartida ambiental, apenas políticas para apoiar o setor. O apoio ao setor aéreo, por exemplo, foi feito de maneira mais branda – ressalta Livi Gerbase, assessora política do Inesc, um dos institutos por trás do estudo.
Livi cita como exemplo a França. A companhia aérea Air France vem recebendo ajuda do governo, mas os empréstimos acontecerão porque a empresa se comprometeu a reduzir suas emissões de gás carbônico (CO2).
Para ela, a adoção dessas medidas no setor energético poderia fazer o país avançar na pauta de sustentabilidade e na retomada do crescimento, num momento em que a cobrança por ações efetivas foi intensificada.
– Não queremos que o setor de combustível fóssil seja descartada nesse momento de crise, mas queremos que as coisas sejam retomadas de modo mais verde e sustentável – defende.
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Apesar do destaque negativo, o estudo mostra que o país está apoiando a matriz energética mais limpa. Entre as medidas está a criação de novos mecanismos para emissão de debêntures verdes (ou green bonds), títulos de dívida para captação de recursos para investimentos em projetos sustentáveis, e financiamento do BNDES para implementar parques eólicos.
Para Livi, o país deveria aproveitar este momento para discutir uma recuperação mais sustentável, liderando o movimento mundial. No entanto, há pouco interesse para isso.
– Enquanto a União Europeia vem defendendo uma recuperação econômica verde, o Brasil, um dos países mais afetados pelo vírus Sars-Cov-2, demonstra pouco interesse em priorizar a agenda ambiental nos planos de recuperação econômica, estendendo apoio ao setor de combustíveis fósseis – conclui.
Fonte: “O Globo”