Aberto desde janeiro como área de lazer nos finais de semana, o Parque Olímpico, coração dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, mostra sinais de abandono. Quatro meses depois do encerramento dos Jogos Paralímpicos, o local parece muito mais uma cidade fantasma que um espaço dedicado à recreação e ao esporte.
Segundo reportagem feita pelo jornal “O Globo”, no dia 24 de novembro do ano passado, a prefeitura do Rio, ainda na gestão do ex- prefeito Eduardo Paes, contratou, em caráter de emergência, sem licitação, a empresa M Rocha Engenharia para cuidar das arenas e da área comum do parque – para isso, receberá R$ 3.324.576,31.
As arenas sofrem com a falta de cuidados. A reportagem de “O Globo” mostrou ainda que a piscina de aquecimento, que nos Jogos estava coberta por uma estrutura temporária, está a céu aberto. Sem tratamento, a água acumulada está com lodo e insetos, inclusive mosquitos.
O G1 percorreu neste sábado (4) o espaço do parque e encontrou caixas de equipamento elétrico – cujos avisos mostram a passagem de uma corrente de 380 volts – protegidas por uma grade metálica que pode ser removida com facilidade.
Tijolos que revestem o chão já estão rachados em diversos pontos próximos ao Centro Aquático. Ainda no mesmo local, a tela de proteção, cujo padrão gráfico foi concebido pela artista Adriana Varejão, está rasgada. Perto do Centro Aquático, é possível encontrar fios pendurados na estrutura do edifício.
A empresa M Rocha Engenharia contratada para fazer a manutenção do interior das arenas cariocas 1,2, 3, do tênis, do parque aquático e do velódromo, afirmou que a restauração do painel de Adriana Varejão não está prevista no contrato.
A assessoria do ex-prefeito Eduardo Paes disse que teve que fazer a contratação emergencial porque realizou duas licitações em que não apareceram interessados.
O Ministério do Esporte disse que o desmonte das arenas é de responsabilidade da prefeitura, e que não tem como informar quando eles serão feitos.
A subsecretaria de Esportes e Lazer disse que vai colocar uma lona na estrutura da piscina que está acumulando água no Parque Aquático. Segundo a prefeitura, as piscinas serão retiradas antes do prazo previsto, que é agosto.
A abertura do novo espaço foi feita pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que convocou os cariocas a aproveitarem o local para a prática de esportes ao ar livre.
“O povo do Rio de Janeiro pode conhecer esse lugar tão bonito, cuja moldura feita pelas mãos de Deus, que são as montanhas, as lagoas e essa vista linda. Eu convido a todos do Rio de Janeiro para vir aproveitar”, destacou Crivella no dia da abertura.
Duas semanas depois não é esse o cenário. Em um primeiro momento, a paisagem remete aos cenários de “A última esperança da terra” e “Eu sou a lenda” – tramas de ficção científica que mostram cidades vazias após um evento cataclísmico.
Poucas pessoas buscaram o parque para um passeio na tarde deste sábado. Uma caminhada no terreno do Parque Olímpico – pelo menos pelas partes mais afastadas da instalação – tem que ser feita com atenção.
Há pregos, pedras soltas e pedaços de cano espalhados pelo chão. Além disso, os canteiros no entorno das árvores acumulam água parada – fazem a alegria apenas das aves que matam a sede no local. Mas que podem servir de criadouro de mosquitos.
“Não consegui encontrar nenhum lugar por aqui para beber água. Nenhum bebedouro, nem uma bica sequer. Isso desestimula as pessoas a virem até aqui”, lamentou o professor de Educação Física e personal trainer Alex Barbosa, de 34 anos.
Legado olímpico
O parque Olímpico ocupa uma área de 118 acres – uma construção que custou 2,5 bilhões e deveria ser o maior legado deixado pelos jogos à cidade. Durante a gestão de Eduardo Paes, houve tentativas de passar a área à iniciativa privada. No entanto, nenhuma empresa se interessou.
No dia da abertura da área de lazer, Crivella anunciou que a partir de março o ministério dos Esportes deve assumir a manutenção do parque, que também receberá o Rock In Rio, em setembro.
“O Rock in Rio é uma das maiores festas que ocorrem no Rio de Janeiro. Uma das maiores não, pelas informações que eu tenho, é a maior. Já estive reunido com o Medina diversas vezes, aliás eu até o convidei, ele aceitou, de fazer parte do nosso conselho de turismo. Claro que a festa vai acontecer, claro que a Prefeitura vai dar todo o apoio. Nós precisamos de turismo, nós precisamos de calendário”, disse.
Guardas municipais patrulham a área – tanto a pé quanto por meio da utilização de pequenos veículos. No entanto, é fácil para qualquer um caminhar pelas dependências do complexo sem maiores problemas. Apenas quando estava em uma área bem avançada do Centro Aquático, a reportagem do G1 foi abordada por um dos agentes para dizer que a permanência naquele local era proibida.
“É estranho, não? Um espaço monumental como este quase vazio, sem ninguém. Acho que poderiam pagar uma empresa de segurança e colocar mais gente para tomar conta disso aqui. Esse local é maravilhoso e não deveria ficar vazio assim”, opinou o engenheiro Sami Fayad, de 59 anos.
Posicionamento da prefeitura
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Prefeitura do Rio informou que o Ministério do Esporte é que vai gerir todas as instalações esportivas do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, assim como também ficará responsável pela desmontagem e remontagem do Centro Olímpico de Esporte Aquáticos e da Arena do Futuro, onde foi disputado o handebol – essa última instalação será convertida em quatro escolas municipais.
A exceção vai ser a Arena 3, que está sob gestão do município e que será uma escola municipal com uso de área esportiva. A prefeitura já está formatando, com a ajuda de professores e diretores, a melhor forma de adaptar a instalação.
O município informou que a Guarda Municipal faz o patrulhamento no entorno e interior do Parque Olímpico da Barra com efetivo diário de 59 guardas e o apoio de sete veículos, sendo dois carrinhos elétricos que circulam pela área externa do complexo. Em caso de furto, a Guarda Municipal realiza o registro na 42ª DP (Recreio).
Os prédios onde a imprensa trabalhou durante os Jogos foram construídos pelo consórcio Rio Mais, são instalações não esportivas privadas, cujo plano é o uso comercial.
Fonte: G1.
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