O enorme esforço que redes educacionais de muitas partes do mundo têm feito para tentar mitigar os danos que o coronavírus tem trazido para a aprendizagem dos alunos mais vulneráveis tem sido impressionante. Na minha atividade profissional, dando mentoria para secretários de Educação de municípios e estados, não raro pude vê-los exaustos, dados seus desafios com a queda de arrecadação e o agravamento da pandemia, para manter seus professores engajados e motivados nessa tarefa.
Mesmo assim, professores se voluntariam para gravar programas de TV, já que a internet, apesar de 75% dos brasileiros a ela terem acesso, de acordo com levantamento do TIC Domicílios, não chega a todos os lares e, quando chega, nem sempre tem estabilidade. Outros percorrem distâncias para entregar cadernos de exercícios para alunos da zona rural ou para interagir com famílias isoladas.
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Não foram poucas as formações dadas aos docentes para uso de plataformas digitais para o processo de ensino. Mas, como todo curso feito às pressas, elas se mostraram insuficientes. Nem todos os professores conseguiram se organizar para atuar neste novo meio e nem todos os alunos conseguiram acessar ou se manter concentrados durante o processo de aprendizagem em casa.
Se somarmos a esse fato o estresse das famílias que perderam fonte de renda ou, pior ainda, entes queridos e mesmo com esse sofrimento veem-se instadas a acompanhar tarefas remotas dos filhos mais jovens, temos uma quase certeza de desastre.
Só que não, como dizem os jovens em redes sociais. A humanidade muitas vezes aprendeu em meio à dor, e isso serve também para a educação formal. Os aprendizados que ocorrem hoje à distância de mestres e de estudantes de escolas públicas têm evitado um maior crescimento das desigualdades educacionais e, de alguma maneira, construído as bases para um processo de ensino mais contemporâneo para quando acabar o distanciamento social.
A escola não será mais a mesma. Ela deverá incorporar tudo o que aprendemos na dor. Sim, a abordagem adotada por muitos estados e municípios foi até certo ponto precária e amadora, mas o empenho em tentar evitar a tragédia foi intenso e assim continuará no retorno às aulas. De certa maneira, tanta luta logrou trazer um pouco de ganhos que, eventualmente, poderão se tornar permanentes.
Nesse sentido, em tempos em que é necessário defender a educação de ataques vindos de quem a deveria proteger, foi muito bom ver um ministro do Supremo nos lembrar que “a educação não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas de mundo”. Obrigada, ministro Barroso!
Fonte: “Folha de São Paulo”, 29/5/2020