Participei nesta semana de interessante debate organizado pela Casa Firjan sobre EaD e aprendizagem online. À parte importantes detalhes técnicos sobre design instrucional e aspectos conceituais de diferentes modalidades de ensino com utilização de tecnologia, manteve-se uma convicção: o processo de aprender e ensinar vai mudar muito depois da pandemia.
Uma forte ação emergencial frente à pandemia não prevista, portanto para a qual planos não foram feitos, foi adotada por todos os estados brasileiros e boa parte dos municípios. Nela, secretarias de Educação combinam diferentes mídias, como televisão, cadernos de atividades e aplicativos, com aulas online para assegurar alguma mitigação dos danos causados pelo longo período de fechamento das escolas.
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Não houve tempo para formações sólidas dos professores ou para orientar os pais, da mesma maneira que não foi possível treinar bem os médicos e enfermeiros para lidar com a situação de crise. Além disso, a negociação com as empresas de telecomunicações para aquisição de pacotes de dados para celulares e a produção de conteúdos para as diferentes mídias levou a um pequeno retardamento do processo. Nada foi perfeito ou próximo do ideal.
Como afirmou a autoridade da União Europeia de educação em um dos webinários internacionais de que participei, trata-se aqui de ações de aprendizagem emergencial. E, sim, cada um dos diferentes meios utilizados faz sentido. Privar os cerca de 51% dos alunos de ensino médio do Maranhão, um dos estados mais pobres da Federação, que se habilitaram na plataforma digital do estado de acesso a aulas ou atividades online porque outros não têm como se conectar teria sido um grave erro. Não fazer nada também seria, daí a importância de se ter material impresso para distribuição e aulas na televisão.
Isso pode causar desigualdades educacionais? Sim, infelizmente, mas não maiores do que se a aprendizagem online fosse evitada enquanto a quase totalidade de escolas particulares no mesmo nível de escolaridade estão usando plataformas para seu processo de ensino remoto. E, se um sistema sólido de recuperação de aprendizado for adotado no retorno às aulas, atendendo os alunos que não conseguiram aprender o mínimo esperado, parte delas será equacionada.
Mas o mais interessante do que comentam os especialistas é que, com as formações emergenciais que ocorreram na crise, a inclusão digital de professores constrói a base de um processo de ensino que pode permanecer e se aperfeiçoar após o retorno às aulas. Aprender online vai ser possível, mas sempre sob liderança de bons professores!
Fonte: “Folha de São Paulo”, 1º/5/2020