O professor Luiz Carlos Bresser-Pereira escreveu o manifesto Projeto Brasil Nação, que teve a adesão de diversos artistas, intelectuais, economistas e profissionais em geral. A marca do manifesto é a incapacidade dos signatários em aprender com os resultados das escolhas de política econômica feitas entre 2006 e 2014.
No início, o manifesto denuncia a decadência da indústria naval e a redução dos critérios de conteúdo nacional. Certamente os signatários são contrários à medida aprovada no Congresso Nacional de eximir a Petrobras de ser operadora única do pré-sal, por ser contrária à construção de “projetos com autonomia no campo do petróleo”.
Para os signatários do manifesto, a desastrosa situação a que chegou a Petrobras há poucos anos não foi causada pelas escolhas de gestão. Talvez eles coloquem tudo na conta da corrupção. A incapacidade de associar a alteração no plano de negócios da Petrobras já em 2003 e os resultados da empresa no fim do ciclo petista mantém a sociedade andando de lado. Em algum momento, repetiremos os mesmos erros. Não houve aprendizado.
Na parte macroeconômica, os signatários apoiam a realização de superavit em conta-corrente, isto é, que nós passemos a exportar poupança simultaneamente a uma elevação dos investimentos.
Se supusermos uma taxa de investimento na casa de 20% do PIB (Produto Interno Bruto), e dado que a poupança doméstica tem rodado a 15% do PIB, o manifesto defende uma elevação de uns seis pontos percentuais do PIB na poupança doméstica.
Dado que os signatários são contrários à reforma da Previdência e à emenda constitucional que estabeleceu teto para o crescimento do gasto primário da União, penso que a elevação da poupança doméstica resultará da redução do gasto de consumo das famílias. De onde virá a redução de seis pontos percentuais do PIB do consumo das famílias? Qual é a política tributária que promoverá alteração tão profunda no comportamento? Aparentemente os signatários não se preocupam com esse detalhe.
Para eles, os juros no Brasil são elevados porque há uma conspiração dos rentistas para mantê-los dessa forma. Não se perguntam sobre os motivos que mantiveram a inflação na casa de 6% ao ano entre 2010 e 2014. Não se perguntam sobre quais seriam os impactos na inflação se houvesse esforço para desvalorizar o câmbio.
O pior é que, ao longo do primeiro mandato de Dilma, tentou-se desvalorizar o câmbio e reduzir os juros e colhemos somente inflação. Os signatários são incapazes de relacionar os fatos. Não houve aprendizado.
O manifesto politiza temas que têm natureza positiva. Estão na direção contrária, por exemplo, do excelente texto “A esquerda e a economia”, de Celso de Barros, publicado no caderno “Ilustríssima” em 3 de julho de 2016.
A sociedade argentina regride há 70 anos. Não consegue aprender com os seguidos ciclos populistas, que sempre terminam com inflação elevada e, portanto, com algum plano de ajuste cujo custo maior é sempre pago pelos mais desfavorecidos. Também se caracteriza por ser uma sociedade que tudo politiza.
O Chile nos últimos 35 anos tem aprendido com as experiências do passado, tem recusado o caminho fácil do populismo, e o debate econômico ocorre de forma racional.
Em 1980, a renda per capita da Argentina era 84% superior à do Chile. Hoje, é 14% inferior.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 23 de abril de 2017.
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