Elevação da taxa básica não seria suficiente para reduzir inflação
A inesperada alta de juros pelo Banco Central — anunciada quarta-feira, três dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff — levou ânimo ao mercado financeiro e foi aprovada por economistas como uma medida necessária para segurar a alta dos preços. Mas os analistas afirmam que só o aumento dos juros não será suficiente para levar a inflação ao centro da meta e cobram, agora, medidas fiscais do governo recém-eleito. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,75% nos últimos 12 meses, acima do limite superior da meta, de 6,5%.
Os juros ajudam a segurar a demanda e evitar alta de preços, mas os gastos do governo vão na direção contrária. O resultado das contas públicas está bem longe da meta de economizar R$ 49 bilhões este ano — até setembro, o superávit fiscal primário do setor público soma apenas R$ 10,2 bilhões. Para o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, a situação fiscal é hoje uma preocupação:
— A parte fiscal é uma incógnita, o que se viu nos últimos tempos foi uma deterioração. E não vejo apetite do governo para mudar isso.
José Julio Senna, do Ibre/FGV, compara a economia brasileira a um carro desgovernado pela inflação. Segundo ele, para conter a alta de preços, “é preciso frear as quatro rodas”. O economista lembra que, no início do primeiro mandato da presidente Dilma, houve uma sequência de cinco altas seguidas da taxa básica de juros Selic: passou de 10,75% para 12,5% ao ano. No entanto, a inflação continuou acima do centro da meta, encerrando 2011 em 6,5%, maior que os 5,91% do final de 2010. Na sua opinião, é preciso outras medidas além da alta de juros, como corte de gastos do governo e um freio nos empréstimos do BNDES.
Se os economistas são unânimes em defender a importância de um aperto fiscal, eles divergem se a alta de juros pelo BC já foi um sinal de uma política econômica mais ortodoxa num segundo mandato de Dilma. Toledo não vê essa inflexão. Na sua opinião, a principal razão para o aumento dos juros foi a alta do dólar nas últimas semanas e a perspectivas de novas pressões no câmbio nos próximos meses:
— Não vejo a alta do juro como uma ação coordenada de política econômica. O BC ficou preocupado com a taxa de câmbio e a pressão na inflação e fez um movimento. Ele tem demonstrado que não é seguidor de ordens e pensa com a própria cabeça.
Opinião diferente tem a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro. Na sua avaliação, o aumento da taxa de juros e a possibilidade, que está em discussão no governo, de retomar a cobrança da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis são sinais dos ajustes que o governo deve fazer para enfrentar os desequilíbrios da economia:
— O calcanhar de Aquiles da economia hoje é a política fiscal. É preciso aumentar o superávit primário para não perdermos o grau de investimento.
Pouca margem para reduzir gastos
Ela diz que o governo tem pouca margem de manobra para reduzir gastos, então a tendência é que se recorra a alguns impostos e também a um possível corte nos investimentos:
— A Cide e o IPI são impostos mais fáceis de mexer. Um retorno integral da Cide representaria um montante entre 0,2% e 0,3% do PIB em um ano. É uma receita que não dá para desprezar.
Para o professor da FEA-USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o corte de despesas é mais difícil e tende a ser feito de forma gradual.
— É absolutamente razoável pensar na Cide como uma fonte de arrecadação. É simples, fácil e imediata. Um outro caminho é o reajuste do combustível, que aumentaria o caixa da Petrobras, permitiria investimentos e, por consequência, aumento dos impostos pagos ao governo. Também é possível recompor o IPI.
Para Cario Megale, economista do Itaú Unibanco, a alta de juros foi bem recebida pelo mercado como um primeiro sinal de ajuste, principalmente porque veio antes da esperada mudança da equipe econômica.
Fonte: O Globo
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