A saúde privada brasileira está aquecida. De planos de saúde a hospitais, passando por redes de laboratórios, os movimentos de fusão, compra e venda vão se sucedendo e redesenhando o setor.
É um momento positivo para o país por significar um melhor atendimento da população. Vale frisar que ele ocorre porque a sociedade brasileira está mais rica e um número cada vez mais elevadode pessoas procura fugir das filas do SUS, através da utilização da rede privada . Finalmente, não se esquecer que o Brasil tem atraído investimentos feitos por grandes fundos internacionais e algumas das aplicações estão sendo direcionadas para a atividade, tanto na área dos planosde saúde, como em redes de hospitais e serviços afins.
Entre os movimentos recentes vale salientar a venda da Qualicorp, a maior corretora de planos de saúde privados, para um fundo internacional; a venda da rede de hospitais São Luiz para a rede de hospitais carioca d”Or; a associação entre a Amil e a DASA; e a parceria entre Bradesco e Banco do Brasil, em planos odontológicos.
A soma dos valores envolvidos ultrapassa folgadamente a casa de um bilhão de dólares, o que é muito dinheiro, e mais ainda no Brasil, principalmente se levarmos em conta que a Lei dos Planos de Saúde Privados é ruim e que a sinistralidade média já está acima de 80%.
É verdade que na área dos planos de saúde privados tamanho é documento. Para atuar em nível nacional é indispensável que a operadora tenha escala. Então, a concentração que vai acontecendo, colocando boa parte dos planos em poucas operadoras com abrangêncianacional é positiva. De outro lado, a existência de planos menores não pode ser considerada ruim ou um risco para o segurado, já que vários destes planos são rentáveis, atendem bem segmentos específicos e, por isso mesmo, estão em situação econômico-financeira maisdo que satisfatória.
Planos regionais, cooperativas e seguradoras especializadas são empresas capazes de atender melhor públicos para os quais os produtos oferecidos pelos grandes planos nacionais não são os mais indicados.
De outro lado, não há como não ver como positivas associações como a do Bradesco com o Banco do Brasil ou a da AMIL com a DASA. Da mesma forma, o ingresso de um grande fundo internacional na comercialização de planos de saúde privados significa a adoção de técnicas gerenciais modernas, baseadas na eficiência da gestão, o que, em princípio, quer dizer um melhor atendimento para o consumidor.
Já a aquisição do Hospital São Luiz pela rede D”Or mostra que o negócio da gestão hospitalar no Brasil passou a ser um investimento interessante, em função das taxas de retorno possíveis de serem conseguidas, pelas altas taxas de ocupação da rede privada de hospitais.
Com casa cheia é mais fácil puxar o preço para cima. Nada que a velha lei da oferta e da procura não explique. Num Brasil acelerado, onde milhõesde pessoas, ao longo dos últimos anos, mudaram de patamar sócio-econômico e, consequentemente, de expectativa quanto às suas necessidades básicas, oferecer saúde de qualidade, remunerada decentemente pela iniciativa privada, passou a ser bom negócio, ainda que não estando claro como, a longo prazo, acontecerá o financiamento destes serviços.
O atual presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar sabe disso. Ele é um profundo conhecedor do setor, tendo atuado profissionalmente como gestor de plano de saúde, hospital de ponta e grande corretora de benefícios. O médico Maurício Ceschin estar à frente da ANS, o órgão regulador da atividade, é a certeza de pelo menos bom senso e competência no processo.
De qualquer forma, nunca é demais insistir: sem que aconteça uma profunda reforma da Lei dos Planos de Saúde, em algum momento a conta não vai fechar. E isso não deve ser visto como uma vitória do povo sobre o capital, como pretendem alguns setores com viés ideológico anacrônico. Sem o braço da iniciativa privada, o governo não tem como oferecer saúde de qualidade para a população brasileiro.
Fonte: Jornal “O Estado de S. Paulo” – 13/09/10
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