Ninguém imagina que o Jardim Pantanal é uma homenagem à região deslumbrante encravada no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A razão do nome é óbvia e tem como origem o fato da área ser sujeita a enchentes, que se prolongam por semanas, até o Rio Tietê baixar e a água acumulada reencontrar o caminho para o rio.
Da mesma forma, não há que se culpar os milhares de moradores das regiões às margens das represas Guarapiranga e Billings. Eles estão lá em função de ações ilegais praticadas por gente que sabia que as ações eram ilegais, mas, com participação direta ou protegidos por políticos da região, não se intimidaram e lotearam imensas áreas de proteção ambiental como se fossem os legítimos proprietários.
Para completar os dois quadros dramáticos, autoridades imbuídas da demagogia barata que pauta boas parte das ações das autoridades nacionais, permitiram não só a permanência dos moradores, mas ainda por cima autorizaram ações de urbanização nas regiões.
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Quer dizer, fingiram que estavam dando as condições mínimas de segurança e bem-estar para que milhares de pessoas permanecessem em áreas de risco. O resultado é o que se vê quase que diariamente nos telejornais. Tragédias de todas as naturezas ceifando vidas e destruindo patrimônios de quem não tem mais nada, além do pouco que é destruído pelas chuvas e enchentes que regularmente varrem seus bairros.
Mas não são apenas essas áreas que são impróprias para o assentamento humano. Os bairros cota, na Serra do Mar, são uma bomba relógio armada e esperando o momento para descer encosta abaixo, arrastando imóveis e pessoas com a sem cerimônia da natureza em ação.
Nem se diga que isso não vai acontecer. Poucos anos atrás, um deslizamento de terra nas encostas da serra, logo acima de Cubatão, teve a lama parando a poucos metros da refinaria da Petrobrás. E ainda tem muita gente que se lembrará do deslizamento que praticamente soterrou Caraguatatuba mais ou menos cinquenta anos atrás.
Até hoje as vítimas da catástrofe que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro aguardam a ajuda oficial prometida à época. E, a se pautar pelas ações das nossas autoridades, é possível dizer que continuarão esperando, até porque outras catástrofes vão acontecendo e em todas elas nossos governos prometem auxílios que chegam parcialmente, até porque, na maioria das vezes, não há o dinheiro prometido.
De acordo com recentes publicações sobre o tema, em 2018 o planeta suportou duzentos e vinte e cinco bilhões de dólares em prejuízos causados pelos eventos de origem natural, especialmente os de origem climática. Noventa bilhões de dólares foram suportados pelo setor de seguros. Destes, sessenta e cinco por cento foram gerados nos Estados Unidos, fortemente atingido pelos incêndios florestais que assolaram a Califórnia e pelos furacões que atingiram a costa leste.
Centro e trinta e cinco bilhões de dólares em perdas foram suportados pelas próprias vítimas e pelos governos dos países assolados pelos furacões, tempestades tropicais, tornados, granizo, enchentes, secas, incêndios, etc. que se abatem sobre o planeta cada vez com mais frequência e intensidade.
O Brasil está no rol dos países que suportaram quase que integralmente os cento e trinta e cinco bilhões de dólares de prejuízos. E nos próximos anos a situação não vai se modificar. Continuaremos tendo milhões de pessoas vivendo em áreas absolutamente impróprias, sujeitas a eventos de várias naturezas, capazes de causar danos de monta a elas e ao seu patrimônio.
Também não teremos uma explosão da demanda por seguros para estes riscos. Ainda que o setor tenha potencial para dobrar seu faturamento nos próximos cinco anos, a imensa maioria dos moradores das áreas sob ameaça, como as descritas acima, continuarão sem ter renda suficiente para contratar os seguros que os protegeriam.
Em outras palavras, continuaremos ainda por muito tempo assistindo catástrofes de origem climática afetarem a vida de milhares de pessoas, que, depois de atingidas, não terão outro suporte além das promessas antecipadamente não cumpridas de nossas autoridades em todos os níveis de governo.
Fonte: “Estadão”, 27/02/2019