Foi lançado esta semana o novo livro do economista Fábio Giambiagi, intitulado “Capitalismo: modo de usar”. Ainda não li, mas pelos comentários parece ser leitura obrigatória. A obra tem como objetivo fazer uma análise descomplicada de como o progresso futuro depende das virtudes e leis do capitalismo, notadamente da valorização da produtividade, da competitividade e do empreendedorismo.
O livro destaca, de forma corretíssima, que um dos grandes entraves ao desenvolvimento sustentado do nosso país está na desconfiança da maioria da população em relação ao capitalismo, bem como na ilusão do ideal socialista que frequenta os corações e mentes dos brasileiros. Segundo o “press release” do livro, o autor demonstra que,
“Enquanto sociedades de países da Europa e dos EUA se destacam pela obsessão pela produtividade, o Brasil, em contraposição, está entre os 25% menos produtivos da América Latina: a produtividade do trabalho no Brasil é de US$17.295 por trabalhador, enquanto nos EUA é de US$ 93.260 e, na Coréia do Sul, US$ 59.560. Ainda assim, o aumento real dos ganhos dos trabalhadores brasileiros ficou acima dos ganhos de produtividade do país entre 2003 e 2010.
Giambiagi demonstra ainda como a cultura nacional mantém viva a noção de que a solução de todos os problemas virá dos favores estatais, ao defender uma forte presença do Estado e bem estar social amplo.
A Previdência é o maior símbolo deste equívoco, traduzida na despesa do INSS: em 1988 foi de 2,5 % do PIB, em 2015, será de quase 7,5 % do PIB – e continuará subindo, uma vez que o número de idosos aumentará em torno de 4% a.a. nos próximos 15 anos. “É uma tragédia anunciada. É como se o país tivesse feito uma escolha pelo passado em detrimento das gerações futuras”.
O diagnóstico da doença brasileira exposto acima está certíssimo. Falta um choque de capitalismo por aqui. O problema é que o remédio é amargo e a maioria da população não quer tomar. Pindorama optou por colocar a carroça na frente dos burros, por dividir o bolo antes de fazê-lo crescer – e ninguém está disposto a abrir mão dos famigerados “direitos adquiridos”. Estamos num beco sem saída. A Grécia somos nós amanhã.
Para comprovar isso que estou dizendo, basta passar os olhos nos jornais. A Folha de São Paulo, por exemplo, noticia hoje que o governo acaba de voltar atrás e resolveu manter a antecipação do pagamento do 13º aos aposentados, inicialmente adiado pelo ministro Levy, por “falta de caixa”. E olha que estamos falando aqui de algo que nem previsão legal tem. Trata-se apenas de uma mera liberalidade do governo que vinha sendo realizada há alguns anos pelos petistas.
[su_quote]A Grécia somos nós amanhã[/su_quote]
Não existe país que tenha caído na armadilha da social democracia – com carga tributária equivalente ou maior que a nossa – que tenha conseguido manter uma taxa de crescimento vigoroso (digamos, acima de 4% em média) de forma prolongada, como ocorre hoje, por exemplo, com a China ou mesmo com alguns países sul-americanos, como Colômbia e Peru. Se o leitor souber de algum, me avise.
É claro que, no curto prazo, a galinha tupiniquim vai alçar alguns voos esporádicos, principalmente depois de períodos recessivos, como aconteceu em 2010, por exemplo, mas serão sempre pontos fora da curva, pois como qualquer galinha, cuja fisiologia não sustenta voos altos e prolongados, sempre voltaremos ao chão.
Ainda que conseguíssemos melhorar muito a produtividade do trabalho por aqui, o que acho muito difícil num prazo curto, mesmo assim continuaríamos engessados pelo excesso de gastos públicos, escassez de poupança interna e regulamentações abusivas.
Enfim, somos prisioneiros de um círculo vicioso, no qual adentramos democraticamente, pela vontade da maioria, e do qual não será fácil sairmos. As reformas necessárias são estruturais e não acontecerão se esta mesma maioria não aceitar fazer alguns sacrifícios, entregando os anéis para salvar os dedos.
Fonte: Instituto Liberal, 19/8/2015
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