Apesar do avanço nas reformas, o ex-presidente do Banco Central e co-fundador da Gávea Investimentos, Arminio Fraga, considera que o Estado brasileiro ainda é “gordo, quebrado e ineficiente”, o que impede a adoção de medidas que eliminem a desigualdade vigente.
– Temos um Estado gordo, quebrado e ineficiente, incapaz de produzir um grau mínimo de oportunidade para reduzir a desigualdade. Isso torna o país vitima fácil de populismo, cria um ciclo vicioso entre cultura, dinheiro e religião – disse Fraga nesta terça-feira, durante conferência sobre investimentos na capital paulista, ao lado de outros dois ex-presidentes do Banco Central: Gustavo Franco e Pérsio Árida.
– Há 30 ou 40 anos o Estado investia 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje não investe nem 1%. Isso não cobre nem a depreciação da infraestrutura – acrescentou.
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Fraga defendeu uma revisão na contabilidade do governo. Ele observou que o Brasil está fora da curva mundial em dois pontos: salário do funcionalismo e Previdência. Essas duas despesas respondem por praticamente 80% de todos os gastos públicos. Na maioria dos países, disse Fraga, esses mesmos gastos respondem por algo entre 50% e 60% das despesas.
– Reduzindo essa despesa à média dos outros países vamos ganhar 20 pontos percentuais, pelo menos. Além disso, ainda há uma série de subsídios e tributação indevidos, como o Simples. Isso está errado. O Brasil precisa mexer nessas contas e em cinco ou dez anos teremos uma revolução. Podemos ganhar 9 ou 10 pontos do PIB. A reforma da Previdência foi feita pela metade. Precisamos de um Estado mais ágil, onde as pessoas prestem contas e sejam avaliadas – afirmou.
Fraga se disse preocupado com o futuro, e que é preciso mexer em muita coisa para que o país volte a crescer numa velocidade de 4% ao ano.
Agenda Liberal
– Eu posso até estar influenciado por morar no Rio, onde não temos nem água limpa para beber. Mas a agenda liberal desse governo, na prática, não está liberal. A Bolsa sobe, o mercado está alegre, mas o investimento não vem. Com uma reforma de Estado poderíamos crescer 4% e não 2% como se espera – disse Fraga.
Gustavo Franco também criticou a agenda liberal do atual governo, afirmando que a economia não foi um tema da campanha do presidente Jair Bolsonaro.
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– O interesse pela economia só apareceu no meio da campanha. Foi um casamento arranjado com um projeto pró-mercado. Nada contra, mas um casamento arranjado precisa ser controlado para que o que foi combinado seja entregue – disse Franco, que foi coordenador das propostas da área de economia do programa de governo do candidato à Presidência da República do Novo, João Amoêdo.
Pérsio Arida defendeu a extinção de dois fundos criados quando o país não tinha poupança e oferta de crédito: o FGTS e o FAT. Para ele, esses fundos não fazem mais sentido. A melhor forma de poupança compulsória, disse Arida, seria o Tesouro Direto, onde o próprio cotista resolveria o que fazer com o dinheiro.
– Mas as propostas de reforma enviadas ao Congresso são tímidas. Contradizem o discurso pró-mercado do governo — afirmou Arida, que foi coordenador do programa econômico do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) nas eleições presidenciais de 2018.
Fonte: “O Globo”