O baixo crescimento econômico vivido pelo Brasil nas últimas décadas é descrito como a armadilha da renda média. Esse conceito está associado às dificuldades do país criar mecanismos que favoreçam o crescimento econômico sustentado, depois de um grande surto de expansão. Os dados mostram que a renda média brasileira, quando comparada a americana, mantém a mesma proporção relativa da década de oitenta. Quando analisada a produtividade total dos fatores de produção (PTF), o crescimento é irrisório em um horizonte de quatro décadas.
Desse cenário emerge a pergunta fundamental, o baixo crescimento é a causa ou consequência da estagnação da produtividade? Como o aumento da produtividade é condicionado pela inovação e pelo incremento da eficiência dos processos produtivos, é natural que esses dois fatores levem a melhoras perspectivas econômicas. Dessa forma, associar a armadilha brasileira à falta de mecanismo de melhora da produtividade é a melhor maneira de analisar essa conjectura.
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A economia tupiniquim sempre manteve a característica de baixa exposição ao mercado externo. O protecionismo, a predileção ao mercado interno e o baixo nível de transações comerciais com o exterior, acentuaram nosso isolacionismo enquanto boa parte do mundo assistiu o desenvolvimento das cadeias globais de valor.
Esse isolacionismo brasileiro é uma das causas que mitigam a competição internacional, o que, se torna um incentivo a falta de inovação, gerando poucos incrementos de produtividade. Na atual conjectura, o Brasil, de um lado, tem sérias dificuldades em competir com nações de renda mais baixa, devido aos seus produtos de menor valor agregado e baixos custos produtivos. De outro, a competição com os países ricos se torna um problema dado o elevado conteúdo tecnológico de bens e serviços.
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De fato, as amarras da renda média só podem ser superadas com o aumento da produtividade. Essa questão chave envolve fatores complexos, mas três eixos podem ser apontados: a natureza dos gastos públicos, o ambiente institucional e abertura econômica. O primeiro se refere ao aumento contínuo dos gastos públicos, que drena mais recursos do que oferece em investimentos, desde a infraestrutura, até educação, ciência e tecnologia. Além disso, o tamanho do estado em conjunto com a baixa poupança agregada encarece o custo dos empréstimos.
Em segundo lugar, o ambiente institucional diz respeito as regras do jogo, ou seja, as regulamentações deficientes, em conjunto com desonerações fiscais seletivas privilegiam determinados grupos de interesse. Por fim, a abertura econômica que pressionará as empresas a se tornarem mais eficientes.
De fato, o crescimento econômico sustentado só poderá ser alcançado com o crescimento da produtividade e, para isso, esses limitantes precisam ser superados. Não existe caminho fácil para escapar da armadilha da renda e, a urgência dessa questão, aumenta a cada resultado pífio da economia.