Lamentavelmente, o Brasil não possui uma direita necessária, disse o cientista político Sergio Fausto. Acrescento que tampouco temos uma esquerda adequada e verdadeiramente democrática. A diferença é que o pensamento de esquerda predomina como “software de fábrica” das faculdades de Ciências Sociais. Assim, ser de direita é remar contra a maré.
O jornalista Assis Chateaubriand dizia que, em seus tempos, não se fazia jornal sem comunistas. Indagado sobre os comunistas em sua equipe, o também jornalista Roberto Marinho teria dito: “General, cuide dos seus comunistas que eu cuido dos meus.”
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A participação de jornalistas ideologicamente comprometidos com posições de esquerda sempre foi relevante. A ponto de, algumas vezes produzirem mais militância do que jornalismo.
Nos anos 1980, a redação da Folha de S.Paulo parecia um comitê do PT, com fotos de Che Guevara, bottons e boinas. Em 2014, de acordo com Sérgio Dávila, editor executivo do periódico, um censo interno realizado pelo Datafolha atestou que 55% dos funcionários da redação se consideravam de esquerda e 23%, de centro. Não sabemos se alguém entre eles se identificou à direita.
Hoje, o predomínio do pensamento de esquerda entre os jornalistas está abalado, mas permanece, mesmo com as decepções em relação ao PT e à Venezuela, entre outras desilusões. Paradoxalmente, o predomínio vem sendo alimentado por polêmicas criadas pelo momento político. Com isso, o esquerdismo das redações está se transformando em campo de resistência “democrática”, como durante o regime militar.
Em recente premiação do site Congresso em Foco, os dez deputados selecionados por jornalistas como os melhores da Câmara são ideologicamente de esquerda. Impressiona o fato de alguns dos escolhidos possuírem relevância periférica e outros se destacarem por uma atuação histriônica ou alegórica. Mas todos, sem dúvida, são ideologicamente afinados com as esquerdas. Foram escolhidos por serem de esquerda? Parece que sim.
O que isso significa para o leitor? Fundamentalmente, que o jornalismo político demonstra, em grande parte, ter um lado. O que termina nublando com tintas ideológicas o quadro da realidade, já que muitos praticam o jornalismo de “resistência”. Falta equilíbrio em nosso noticiário. Não apenas por questões conjunturais, mas sobretudo, por razões históricas e culturais.
Fonte: “IstoÉ”, 27/9/2019