O enredo político tradicional é enfadonho e não atraente. Na verdade, as pessoas estão cansadas de ouvir mais do mesmo; querem algo inovador, capaz de romper com as monótonas forças do atraso. Sim, senhoras e senhores, a divisão política entre esquerda e direita está completamente ultrapassada frente às dinâmicas do mundo moderno. O poliedro da vida não é feito por apenas duas faces equidistantes. Aliás, ao invés de andar para os lados, o futuro se fará caminhando para frente.
Objetivamente, a lógica contemporânea transcendeu as escolhas binárias. Dicotomias lineares podem até esboçar uma organização primária, mas sociedades complexas não se resolvem por arranjos simples. Na angústia dos conceitos, rótulos são absolutamente redutores, privilegiando a superficialidade da aparência em detrimento da busca do que nos faz humanos.
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Na jogatina de interesses fúteis, a maior parte dos políticos atuais não passam de papagaios sem ideias próprias. A partir de pautas idiotizantes, incorporam discursos prontos entre lances de retórica barata. Quando emparedados, usam o estúpido apelo à violência verbal para mascarar uma completa ausência de pensamento independente. Nesse teatro de fantoches sem brilho, o diálogo democrático superior fica órfão de líderes autênticos que, através do exemplo de suas trajetórias virtuosas, transformam palavras em fontes de inspiração e confiança social.
De forma crua, a realidade está posta: a esquerda morreu e a direita está no túmulo ao lado. O futuro não se fará com rasas dicotomias passadas. Vivemos um tempo frenético, difuso, de lógicas móveis e fluídas. Cabe à política incorporar as ágeis dinâmicas da sociedade contemporânea, oferecendo respostas versáteis a pulsões sociais movediças e maleáveis. Como as redes sociais bem demonstram, a dominância do poder não mais se exerce num modelo estático-vertical, mas através de canais abertos à pluralidade do engajamento coletivo.
No cair do sol, uma democracia de lados apenas separa aquilo que deveria unir. Afinal, a boa política é essencialmente levar luz às sombras.
Fonte: “Gaúcha ZH”