Logo após as eleições, havia uma uma enorme expectativa da sociedade a cerca do desempenho do novo governo. O PIB estagnado, o desemprego elevado e a possibilidade de um colapso fiscal tornaram os brasileiros descrentes na recuperação de seu padrão de vida. No entanto, a volta da discussão da agenda de reformas e a nova composição do Congresso, mais liberal, fomentavam a esperança no crescimento. A aprovação da Reforma da Previdência era vista como o fator mais importante para destravar os investimentos e o consumo, pois nos afastaria da rota da insolvência fiscal. Com o crescimento começando a aparecer, seria mais fácil avançar nas demais reformas, como a tributária e a administrativa, além das reformas microeconômicas, essenciais para o aumento da produtividade e consequentemente para o nosso potencial de crescimento.
A reforma da Previdência foi aprovada na Câmara com uma economia de gastos nos próximos 10 anos muito maior do que os economistas pudessem um dia imaginar. Há poucas dúvidas de que o Senado irá aprová-la nas próximas semanas, mas infelizmente a descrença na recuperação da atividade só aumenta. A grande pergunta que se coloca é: por que o Brasil continua estagnado? Não é verdade que a culpa é do cenário externo. Certamente a economia mundial está desacelerando, estamos discutindo uma possível recessão nos EUA, a guerra comercial está afetando as exportações dos principais países, mas nenhum desses fatores explicam a ausência de recuperação da atividade no Brasil. Os desenvolvimentos externos agravam a nossa falta de perspectiva, mas seus efeitos são recentes e não justificam nosso pessimismo.
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A verdade é que não há explicação exata para tamanha decepção, principalmente quando os juros estão em patamares baixíssimos, inclusive as taxas longas. O que podemos fazer é elencar um conjunto se fatos que isoladamente não teriam potência para brecar nossa recuperação, mas que em conjunto nos trazem alguma luz. Os candidatos naturais permanecem sendo os mesmos de sempre: pouco investimento em educação, incerteza jurídica, falta de regulação adequada, rede de proteção social ampla e etc…
No entanto, o que está mais evidente nesse momento e que é assunto de todos os debates no mercado financeiro e no setor real da economia é o crescente “ruído político”. Vivemos desde o início do ano com o Executivo adotando uma nova forma de se fazer política, sem a construção de uma base congressista e em conflitos constantes com o deputados e senadores. A proposta, por exemplo, de recriação da CPMF está sendo apresentada a despeito de não encontrar nenhum adepto no meio político. O tributo sobre movimentações financeiras é altamente cumulativo, causa enormes distorções nos preços relativos da economia, ineficiência, mas é defendido com veemência pelo Ministério da Economia e começa a ser encampado pelo Presidente.
A arte de fazer política passou a ser criminalizada no país, o exercício ético e legítimo de influenciar o comportamento e as ações das pessoas é necessário para o progresso econômico. A Reforma Tributária, por exemplo, está empacada porque temos inúmeras propostas sendo debatidas sem a busca pelo consenso. Câmara, Senado e Executivo disputam protagonismo nesse tema, enquanto o investimento é emperrado sem perspectiva de qual será a mudança efetiva na nova forma de tributação, o qual afetará todos setores da economia e os entes federativos de maneira relevante. A abertura comercial, tão defendida pelo governo, ainda não saiu do papel. As medidas para desburocratização da economia são tímidas e barradas por interesses corporativistas. A articulação política é essencial para que toda agenda avance com celeridade: privatizações, reforma do setor de telecomunicação, novo marco do saneamento, mudança nas regras fiscais, capitalização da Eletrobras, cessão onerosa e etc.
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A recuperação cíclica já deveria ter começado. O resultado das eleições evidenciou que a sociedade está disposta a mudanças. O custo de realizá-las nunca foi tão baixo como agora, mas é preciso que a política não atrapalhe a economia e que o governo tenha urgência em tocar a pauta mais importante do país: a pauta do crescimento. Sem ele, teremos paralisia total da maquina pública limitada por controles fiscais, forte aumento da desigualdade social, perda de capacidade dos desempregados de voltar ao mercado de trabalho e piora mais acentuada da nossa competitividade. Temos urgência em crescer.