O maior objeto de desejo para a larga maioria dos jovens é obter um diploma universitário, não só pelo status social que isso traz, mas também porque representa maiores oportunidades de emprego qualificado no mundo do trabalho. Estudos do economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas/RJ, mostram que, para cada ano de estudo, há um impacto médio de 12% na renda do trabalhador. Mas, se essa pessoa tem ensino superior, o impacto é de 36%. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam que, no período de janeiro a maio do ano passado, havia menos 102.483 vagas voltadas para trabalhadores com ensino fundamental completo ou incompleto – ou seja, os postos de trabalho “encolheram” para aqueles com menos instrução; por outro lado, para trabalhadores com ensino médio e/ou ensino superior, mesmo que incompleto, o saldo foi positivo, com 85 mil novas vagas disponíveis!
Na perspectiva do aumento da produtividade de uma nação, o impacto mais significativo ocorre a partir dos onze anos de escolaridade. Ou seja, o impacto médio dos anos associados ao ensino superior na produtividade do trabalho é de 25%.
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Apesar do reconhecimento do valor do ensino superior, o percentual de jovens de 18 a 24 anos (faixa etária esperada para cursá-lo) com acesso a ele ainda é muito baixo no Brasil, não obstante o crescimento verificado na última década. Atualmente, para cada 100 jovens nessa faixa etária, apenas 18 estão no ensino superior, número bem inferior aos verificados em países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai.
Para acelerar esse crescimento, a Meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), que se encerra em 2024, se refere especificamente à expansão do ensino superior no Brasil. De acordo com ela, pretende-se chegar a um percentual de 33% de jovens de 18 a 24 anos nesse nível de ensino. Se considerarmos o crescimento verificado nos últimos cinco anos (2011 a 2015), o país não alcançará essa meta, que já foi a mesma colocada no PNE anterior, de 2001 a 2010.
Contribuem para isso pelo menos dois importantes fatores: o crescimento do número de desempregados jovens e a redução do financiamento público de estudos nas instituições particulares de ensino superior via Fies – importante instrumento de financiamento do ensino superior para jovens de baixa renda, que, no entanto, atende apenas a uma pequena parte do contingente jovem nessa situação.
Adicionalmente, e não menos relevante, há outro fator que, se não resolvido, será o impeditivo determinante para o alcance dessa meta do ponto de vista não do ingresso na universidade, mas da permanência e da conclusão dos estudos: a baixa qualidade da educação básica em nosso país. Muitos jovens até conseguem entrar na universidade, mas não alcançam o êxito esperado, em função dos significativos déficits de aprendizagem que trazem consigo. Por exemplo, de cada 100 alunos que concluem o ensino médio – e que estariam a priori aptos a tentar uma vaga na universidade –, apenas sete aprenderam o que seria esperado em matemática; em língua portuguesa, esse número é um pouco maior – 28, mas nada animador.
Portanto, para que o sonho do acesso ao ensino superior se realize, é preciso fazer dois grandes movimentos: melhorar a qualidade da educação básica e ampliar as fontes de financiamento para os jovens de baixa renda. Isso requer que o país, de fato, priorize a educação e a veja como o novo nome do desenvolvimento, como diz o movimento Santa Catarina pela Educação. Se para alguns isso pode parecer custo, para outros significa investimento. Como diz Derek Bok, ex-presidente da Universidade de Harvard: se você acha a educação cara, experimente a ignorância.
Fonte: “IstoÉ”, 25/04/2018