Chegamos a um momento em que é possível saber, mais ou menos, como cada candidato pretende atuar na área econômica (pelo menos para os que estão na frente das pesquisas). A maioria já anunciou algumas formulações de programas. É sobre este tema ambicioso que estamos nos metendo neste Panorama. Importante salientar que estamos expondo apenas algumas ideias dos formuladores dos candidatos. Ainda não tivemos acesso aos programas. Como já dito acima, estaremos focando nas seguintes equipes econômicas dos candidatos à frente das pesquisas (mais recentes): Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), talvez Joaquim Barbosa (PSB), e Geraldo Alckmin (PSDB). Mantenhamos, portanto, esta ordem.
Importante salientar que este será feito em duas partes, a primeira nesta semana, a segunda, quando tivemos maior clareza sobre o que pensa Joaquim Barbosa e quem está por trás do programa econômico de Ciro Gomes. Nesta semana, falemos apenas de Jair Bolsonaro e de Marina Silva.
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Iniciando por Jair Bolsonaro (PSL) consideramos um candidato populista de extrema-direita, tendo como bandeira de luta o anti-petismo, a segurança e a defesa da moral e dos bons costumes. Colocando um “liberal de carteirinha”, Paulo Guedes, como formulador do programa econômico, Bolsonaro, de forma oportunista ou não, está tentando embarcar nesta onda mais liberal que se espalha pela economia, depois de tantos escândalos e casos de corrupção. Paulo Guedes, ex-dono do IBMEC, defende um amplo programa de privatizações, a recompra da dívida pública e um novo modelo de previdência, entre tantos. Para ele, estamos ingressando na tal “sociedade aberta”. Já tivemos a maior independência do Legislativo, no episódio do impeachment de Collor de Melo, e agora do Judiciário, com a Lava-Jato. Acha que a sociedade está mais madura, mesmo que avançando “aos trancos e barrancos”, entre avanços e recuos. Dos quase 40 ministérios do governo Temer defende a redução para dez a doze e acha que as negociações entre Executivo e Legislativo devem evoluir em torno de programas. Para isso, defende ainda uma ampla reforma política, pautada na fidelidade programática, na votação em bloco dos partidos e na valorização maior destes, não fazendo sentindo a existência atual das “legendas de aluguel”. Sobre o regime fiscal, defende uma melhor qualidade nos gastos públicos e, por este esforço fiscal de ajustes, uma taxa de juros reduzida. Defende também a recompra da dívida a partir de um amplo programa de privatizações que pode variar entre R$ 500 bilhões e R$ 800 bilhões. Defende os programas sociais, de transferência de renda, mas afirma que a “verdadeira inclusão social deve vir pela geração de empregos”.
Falando de Marina Silva (Rede), sua equipe de formuladores econômicos deve ser formada tendo Eduardo Giannetti da Fonseca à frente, além de André Lara Resende, Ricardo Paes de Barros e, talvez, Marcos Lisboa. Na visão de alguns, Marina pode estar tentando se “travestir de tucana”, se aproximando mais da social democracia paulistana, da classe média, talvez uma “social democracia amazônica”. Pode ser, dada a sua equipe de economistas. No entanto, a diferença maior é que enquanto Marina, pelo seu histórico de vida (desde os seringais do Acre até os dias de hoje), possui mais identidade com o povão, os tucanos são mais simpáticos à classe média paulistana. Soma-se a isso, é mais conhecida do que Alckmin e não tem envolvimento com a Lava-Jato, ao contrário de algumas lideranças tucanas.
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No cerne do seu programa de governo Marina se posiciona como “vacinada contra recaídas populistas”, defensora da reforma da Previdência e de um pacto federativo em que a distribuição de recursos seja mais desconcentrada a favor dos estados e municípios. Sobre isso, Giannetti da Fonseca acha o nosso pacto federativo truncado, mal resolvido, e que o governo precisa deixar de ser “gerenciador da folha de pagamentos”. Ou seja, defende gastos melhor executados e mais autonomia nos entes federativos. Defende também a reforma da Previdência por achar que a atual só gerou “castas previdenciárias”. Não acha plausível 30 milhões de brasileiros receberem pouco mais de um salário mínimo pelo INSS contra 1 milhão de privilegiados do serviço público, recebendo salários integrais quando aposentados.
Sobre os últimos movimentos de Marina, achamos que falta a ela se aproximar de um gestor reconhecido, um empresário ou personagem da vida pública de sucesso, para então compor esta chapa da Rede. A hipótese de ter Joaquim Barbosa como vice não deve ser descartada, mas alguns sinais emitidos pelo ex-ministro indicam que ele só aceitaria como “cabeça de chapa”. Recentemente, disse também que só deve definir sua posição como candidato (ou não), depois das convenções partidárias de julho. Nas próximas semanas tentaremos reunir novas informações sobre os outros candidatos que pontuam bem neste momento, Ciro Gomes e Joaquim Barbosa, para tentar descobrir o que pensam sobre a economia. Falaremos também sobre o tucano Geraldo Alckmin, reunindo a equipe econômica mais qualificada entre os candidatos (Pérsio Arida, Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros e Armínio Fraga). Pairam dúvidas, no entanto, de se caso sua campanha não engrenar, o plano B João Dória, acabará inevitável.