Que espaço terá a eleição dos governadores, espremida em uma eleição presidencial com tantos elementos imprevisíveis? O nó da gestão dos Estados é a mais aguda das complexas equações públicas do Brasil.
Estão esgotados os períodos de convivência com estruturas sem sentido, serviços públicos sucateados, privilégios a castas do funcionalismo e forte sombreamento com os serviços municipais. Não há mais espaço para aumento da carga tributária, especialmente ICMS, pois asfixia a competitividade econômica do Estado.
Não há, tampouco, lugar para voto de protesto ou candidatos factoides em um contexto desse tipo, pois qualquer escorregão na gestão pode gerar caos; as promessas genéricas de aumentar a oferta de saúde e educação soam artificiais. Da mesma forma, discursos como a defesa de direitos adquiridos e manutenção das estatais geram contradição com a necessária reforma do Estado e um ajuste fiscal sem aumento de impostos. Opções terão que ser feitas.
Leia mais de Gustavo Grisa
As máscaras dos extremos
“Este é o momento de pensar a seguridade do país”
“É preciso trazer o princípio da flexibilidade para a gestão pública”
A agenda dos governadores se centrará muito na negociação contínua das dívidas, no acerto da repartição com a União, na reforma da previdência estadual e na organização da competitividade e atratividade econômica durante um período de retomada. Aqueles que tiverem mais iniciativa reorganizarão a estrutura para trazer mais resultados e governabilidade.
Por outro lado, não haverá gestão federal de sucesso sem um modelo de trabalho muito estreito com os Estados. A coordenação federal, principalmente com os maiores Estados afogados em graves crises, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, será fundamental.
É de se esperar governadores que tenham capacidade de pactuar, negociar, reduzir o tamanho de suas estruturas sem comprometer gravemente os serviços; que mantenham os compromissos com a grande massa do funcionalismo, enquanto restringem privilégios; que saibam usar o patrimônio público como contrapartida em parcerias e concessões, e não o queimem simplesmente para fechar as contas do próximo mês. Teremos condição de debate e opções de candidatos para que os eleitores façam escolhas adequadas?
Fonte: “Zero Hora”, 06/03/2018