Há algumas semanas atrás havia muita especulação sobre quem seria o presidenciável do famigerado “Centrão”. O Centrão para quem não sabe, é um grupo fisiológico que atua dentro do Congresso Nacional, com uma base que em 2016 era composta por doze partidos (PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL) garantindo ao grupo a maioria simples nas votações da Câmara dos Deputados.
O Centrão existe desde a Constituição de 1988, mas a sua “popularidade” chegou ao ápice a partir do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, momento em que ficou bem clara sua influência no resultado geral em votações do legislativo. O impedimento de Dilma foi sacramentado devido aos votos do Centrão, uma história já muito bem documentada pelo Terraço.
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Devido a isso, o Centrão passou a ser temido e o seu apoio passou a ser procurado como garantia de governabilidade. Além disso, ser do Centrão garante algumas vantagens desde a candidatura, como maior tempo de televisão. Seguindo essa lógica, vários candidatos a presidência procuraram ter a benção do grupo, algo que acabou sendo conseguido por Geraldo Alckmin, presidenciável pelo PSDB. Assim, os atuais partidos que compõem o Centrão – PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade – aderiram a campanha presidencial do candidato tucano, algo que gerou elogios, críticas e até mesmo preocupação.
Essa base de apoio leva a duas interpretações sobre a candidatura de Alckmin. A primeira é a interpretação pragmática, de que o candidato, caso eleito, poderá ter o apoio necessário para aprovar importantes reformas estruturais, a exemplo da Reforma da Previdência. Mas há uma segunda interpretação: a de que Alckmin seria um autêntico candidato do sistema (cheio de vícios) e, assim como Michel Temer, acabará ficando preso aos interesses espúrios da sua base política.
Seja como for, Alckmin e também os demais candidatos, devem colocar os problemas do Brasil, como a necessidade de reformas estruturais, elevado desemprego e graves problemas na saúde e na educação, no centro da discussão, tendo prioridade máxima. No enfrentamento desses problemas, o Centrão oferece uma maior margem de manobra, margem essa que depende de um conhecido fisiologismo, que nem sempre vai ao encontro das necessidades do Brasil.
Fonte: “Terraço Econômico”, 01/08/2018