Na primeira das entrevistas do G1 e da CBN com presidenciáveis, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, mirou, em seu principal adversário: o deputado Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto.
Ele tenta se apresentar como única voz sensata, com experiência administrattiva, capaz de enfrentar os desafios fiscais diante do próximo governante. Mesmo seus (raros) ataques ao PT foram calculados para atrair a parcela de eleitores de Bolsonaro que acredita poder mudarem de voto até a eleição.
Justificou sua coalizão partidária ampla como necessidade para mudar o país. “Brasil não vai mudar no grito, não vai mudar na bala, não vai mudar no ferro”, afirmou, numa referência clara a Bolsonaro. “Para mudar, é preciso ter maioria. É preciso mudança constitucional.”
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“Quem ganhar terá a força do voto, do povo, da democracia, tem que usar essa força para nos primeiros seis meses aprovar as mudanças de que o país precisa”, disse. Definiu como prioridades as reformas política, tributária e da Previdência. “Defendo voto distrital misto, voto facultativo e menos partidos políticos.”
Entrou na seara preferida de Bolsonaro, a segurança pública. “Segurança pública é dever do governo federal. Vou dar total prioridade.” Reivindicou os melhores índices de redução de homicídio no país e criticou aqueles que os atribuem à ação de facções criminosas. “Dez mil vidas salvas por ano. O crime organizado salvou dez mil vidas? A polícia não nenhum mérito? Divulgar uma tese absurda como essa?”
Afirmou que o governo federal vai liderar o combate ao crime no Brasil e que criará uma guarda federal permanente para ajudar governos municipais a reduzir o número de homicídios. Sua proposta é levar o exemplo paulista para o país, melhorando a investigação e prendendo mais criminosos. Fez questão de reforçar a intenção de combater crimes contra a mulher, na tentativa de atrair o eleitorado mais resistente a Bolsonaro.
Enrolou-se na tentativa de justificar a posição do partido diante de casos de corrupção, como o do senador Aécio Neves. Disse que montará um ministério com rigor ético e apoiará os órgãos de controle e a Operação Lava Jato. “Em princípio, denunciados nem entrarnao no governo.” Não soube explicar os casos de seu próprio governo, como as denúncias de desvio no Rodoanel, nem a citação de seu próprio nome na Lava Jato. “Não há nenhuma prova.”
Diante da tragédia do Museu Nacional, foi cobrado sobre a ausência da cultura em seu programa de governo. “Está implícito. Não precisa pôr no programa de governo que vai preservar hospital ou museu. É óbvio”, afirmou. Citou exemplos do governo paulista, como o Projeto Guri e a Osesp. “Temos em São Paulo os melhores museus do país.” E o atraso nas obras do Museu do Ipiranga? “É da USP. A universidade tem autonomia financeira, pedagógica e administrativa. Vida totalmente independente. Ficará pronto até 2022, bicentenário da independência.
Usou o pretexto comum para justificar atrasos em obras: falta de dinheiro. “Teve atraso. Você está construindo sua casa, seu salário foi reduzido, você não vai cortar custeio, reduz o ritmo de obras, é natural. Os governos não têm recurso para nada. Quem disser o contrário, é mentira. Não tem solução se o Brasil não voltar a crescer.”
Constatou o óbvio: o Brasil passa por uma crise fiscal generalizada. “Até o último governo do PT, o Brasil sempre teve superávit, O déficit vem de 2014 para cá”, afirmou. “Não tem dinheiro pra hospital, escola, estrada, pra quase nada. Quem assumir o governo entre com déficit primário de R$ 139 bilhões. Óbvio que isso vai dar problema. Minha meta é, em dois anos, zerar esse déficit.”
Como? A ideia é cortar despesas e voltar a crescer para atrair capital estrangeiro e aumentar a arrecadação. “Vou reduzir imposto das empresas para dizer: não vá para os Estados Unidos, venha para o Brasil”, afirmou. “Vou tributar menos o imposto corporativo e mais os dividendos, para estimulá-la a investir no setor produtivo. Podemos crecer 4% a 5%” Propôs reunir cinco impostos num só, cortar até dez ministérios e enxugar a máquina.
“A grande despesa é no custeio. A estatal do trem-bala está aí. TV do Lula está aí, firme e forte. Vamos fazer enxugamento da máquina brutal”, disse. “Olha a quantidade de fundações desnecessárias que fechamos em São Paulo, privatizações, corte de gastos, aviões, helicópteros, cargos comissionados. Será que todos os incentivos se justificam?”
Sobre o desempenho insatisfatório de São Paulo nas provas do Ministério da Educação, criticou a exclusão de alunos do sistema técnico da avaliação. “São os melhores alunos. Prejudicou o Brasil inteiro, mas prejudicou muito mais São Paulo.” Quanto ao ensino fundamental, afirmou que São Paulo melhorou, mas outros estados melhoraram mais.
Defendeu reforma do ensino médio e prometeu aumentar em 50 pontos, ao longo de 8 anos, o desempenho dos brasileiros no exame internacional do Pisa, façanha que até hoje nenhum país conseguiu. “É a meta, vamos fazer o máximo que a gente puder”, afirmou. “Se conseguirmos isso, ganhamos um ponto no PIB.”
Alckmin tenta se colocar como um candidato mais viável que Bolsonaro num eventual segundo turno contra o petista Fernando Haddad. Quer transmitir a imagem de um conservadorismo sério e responsável. Por enquanto, as pesquisas mostram que o brasileiro não tem lhe dado a confiança suficiente para ter êxito.
Fonte: “G1”, 04/08/2018
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