Há muitos equívocos cometidos por aqui na história do petróleo, mas talvez possam ser resumidos assim: contar com um dinheiro que não existe e, seu inverso, gastar mal o dinheiro que aparece.
Faz anos que se discute nos meios políticos, prioritariamente, como dividir o dinheiro do pré-sal entre os governos federal, estaduais e municipais, de um lado, e quais setores (educação? saúde? investimentos?) receberiam as verbas, de outro. E só secundariamente como seria explorada essa riqueza natural que, segundo Dilma e Lula, levaria o Brasil a um lugar entre os mais desenvolvidos do mundo.
Uma mistura de ideologia estatizante — seria tudo do Estado — e enorme incompetência deixou um atraso de pelo menos cinco anos na exploração de óleo. Nesse período, o preço do petróleo caiu — tornando os investimentos menos rentáveis — e, mais importante, acentuou-se a percepção de que o fim da Era do Petróleo está bem visível, mais à frente.
Esse foi o segundo grande erro. O primeiro erro ocorreu quando de fato havia dinheiro. Com o preço do petróleo nas alturas, nos anos 2000, o Brasil faturou alto e… torrou o dinheiro em gastos de pessoal e custeio. E na grossa corrupção do petrolão.
E não por falta de aviso, nos dois casos. Na verdade, dois avisos muito antigos, do sheik Yamani, criador da Opep lá nos anos 60. O primeiro: “A Idade da Pedra não acabou por falta de pedras”. O segundo: “A Era do Petróleo vai acabar antes que o mundo fique sem petróleo”.
Naquela época, o debate mais intenso tratava do fim das reservas de petróleo. Fazia-se a conta: o consumo de óleo crescia mais depressa que a descoberta de novos jazidas. Logo, em um dado momento, o mundo ficaria sem petróleo.
O outro debate era mais político. Como os países árabes controlavam a maior parte do petróleo, e já haviam imposto um embargo global, era preciso encontrar outras formas de energia.
Em qualquer caso, o recado de Yamani, para os donos do petróleo, era claro: usar o dinheiro de hoje para criar uma economia, digamos, “não petróleo”. Valia para produtores e consumidores.
De uns anos para cá, tornou-se dominante o tema do aquecimento global. A meta que se vai formando, no mundo, é de garantir que a temperatura global não suba mais de dois graus nos próximos 30 anos. Vai daí, como nota a última edição da revista “The Economist”, o consumo global de petróleo terá que cair dos atuais 95 milhões de barris/dia para não mais que 75 milhões — e idealmente, para 45 milhões.
E se o mundo caminha nessa direção, países que dispõem da riqueza natural precisam tomar duas providências: primeira, acelerar a exploração, vender petróleo enquanto há; segunda, aplicar os recursos em investimentos que gerem riqueza a longo prazo.
Para a primeira política, será preciso mudar o regime de exploração, de modo a tornar mais baratos os investimentos em exploração. O custo alto foi uma das causas do fracasso no leilão de ontem.
Para a segunda política, será preciso definir os pontos nos quais poderá ser aplicada a renda do petróleo. Não é difícil fazer isso. É só copiar de países que deram certo. E copiar de grandes companhias petrolíferas globais que estão investindo em energia sustentável.
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Pacote
É bom o pacote pós-Previdência. É disso mesmo que o país precisa, uma imensa reforma do Estado e do sistema de gasto público.
Mas essa política, no momento, é restritiva — mais de redução de gasto do que de expansão, que só poderá ocorrer depois de um bom período de saneamento.
Para estimular o crescimento mais imediato, há três agendas:
1) aumento de crédito com redução de juros;
2) concessões e privatizações, inclusive em petróleo, para atrair o máximo de investimento privado;
3) a reforma tributária com o objetivo de promover uma eficaz simplificação.
As três agendas estão em andamento. São difíceis, ainda mais considerando as sucessivas crises políticas criadas pelo presidente Bolsonaro. Mas se, nessas circunstâncias, o Congresso votou a reforma da Previdência, então há esperança.
Fonte: “O Globo”, 7/11/2019