Ainda existe um enorme ceticismo nos meios políticos sobre o movimento de Geraldo Alckmin de se aliar aos principais partidos investigados nas recentes denúncias de corrupção. Preferiu um acordo com as velhas oligarquias políticas e suas estruturas tradicionais de poder. A dúvida é se este movimento vai se traduzir em votos ou em mais desgaste. A certeza é sobre o potencial traiçoeiro de seus novos sócios.
Alckmin não era a opção de muitos caciques do centrão. Estes preferiam Ciro Gomes, enquanto outros ainda sonham com a volta de Lula ao ringue. Mas diante de uma perspectiva de uma boa divisão do butim do futuro governo assegurado pelo candidato peessedebista, acabaram embarcando na nau tucana.
A fidelidade dos novos sócios, entretanto, não é tão forte quanto parece. Na saída da reunião que selou o apoio do centrão a Alckmin, Ciro Nogueira, aquele que dá as cartas no Progressistas, disse que se Lula entrar no páreo, votaria no petista. Como se não fosse o bastante, outro movimento começou a preocupar o presidenciável tucano. Valdemar Costa Neto, que já indicou o vice de Lula, namorou com Bolsonaro e Ciro Gomes e tentou emplacar o candidato a vice de Alckmin, voltou a conversar com o PDT.
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Isto significa que o acordo do ex-governador de São Paulo com o centrão não está devidamente alinhado em todas as frentes. Os palanques estaduais seguem divididos com a tendência de apoio nacional para aquelas candidaturas que podem impulsionar a reeleição dos seus caciques e ajudar a formar uma boa bancada na Câmara. Nesta lógica, não importa a coligação nacional, mas a sobrevivência política regional.
Assim, se Alckmin não mostrar tração nas próximas pesquisas, o que ainda será difícil, corre o risco de cristianização. Na eleição presidencial de 1950, o PSD lançou o mineiro Cristiano Machado como candidato a presidente. Com dificuldade em se viabilizar, foi abandonado aos poucos pelos aliados. Vítima de traições dentro de sua aliança e especialmente no seu partido, terminou a corrida em terceiro lugar, atrás do PTB e UDN. O apoio formal não garantiu apoio na prática. A manobra ficou conhecida na política como “cristianização”, o esvaziamento de um candidato em favor do concorrente. Hoje, Alckmin corre o mesmo risco.
Outro desafio do tucano está na viabilidade de Álvaro Dias. O candidato do Podemos carrega um valioso ativo do PSDB nas últimas eleições – o voto do Sul do Brasil, hoje canalizado para o paranaense. Álvaro ainda negocia o apoio de um bloco de nove pequenos partidos que somados podem entregar-lhe mais de 2 minutos no horário
eleitoral. Se conseguir, a candidatura de Alckmin sofre mais um abalo.
Com Alckmin no papel, o centrão busca sua sobrevivência política. No momento que a perspectiva de poder mudar de lado, os novos aliados estarão prontos para desertar. Cabe ao tucano, reagir, sob pena de se tornar a mais nova versão de Cristiano Machado.
Fonte: “O Tempo”, 30/07/2018