Ao largo do “debate” sobre proteção ao ambiente, alguns anarcocapitalistas responsáveis, produtivos e independentes têm oferecido à sociedade um modo de vida admirável e inovador.
As habitações “offgrid”, ou fora da rede, independem quase totalmente do Estado ou de suas concessionárias em suas necessidades de energia, água, esgoto, gás e de quebra permitem uma pequena produção de alimentos.
Elas têm baixo custo de construção e o menor impacto ambiental possível e são resultado do empreendedorismo e da iniciativa de cientistas, arquitetos e engenheiros após décadas de tentativas e erros. São autônomas e agregam comunidades voluntárias e habitantes isolados nos EUA e na Europa. Há também escolas e eco-hotéis operando no Uruguai, na Argentina e na Austrália.
A empresa que lidera esse promissor setor é a norte-americana Earthship, que vende projetos variados em tamanho e design, oferece cursos para capacitar as pessoas a construir suas casas, fabrica casas e aluga pernoites e temporadas em suas casas-modelo.
As primeiras casas foram construídas no deserto do Novo México em 2000. São habitações de aparência orgânica, e muitos modelos lembram Gaudí.
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Na fase oposta ao sol, há uma larga parede de pneus usados recheados de areia e cobertas com adobe, perfurada por dutos de ar que conectam o exterior a cada aposento, gerando resfriamento por convecção durante o verão. Na face frontal ao sol, uma estufa interna formada por duas camadas de vidro e painéis fotovoltaicos produz energia, calor e alimentos. O teto capta e filtra água de chuva. O lixo é compostado, gera gás metano, e nada sai da propriedade. O terreno adjacente é usado para hortas e criação de animais. Há gente morando nessas casas há vários anos.
A Earthship e o surgimento das casas autônomas demonstram a diferença entre o indivíduo passivo acostumado à tutela estatal e o cidadão pró-ativo e criativo empenhado em resolver problemas. É basicamente a mensagem da economista Deirdre McCloskey, nesta semana em palestras no Brasil, de que a acumulação de ideias e a ação humana são mais determinantes para a prosperidade do que a acumulação de capital e as instituições.
Enquanto alguns creem proteger o ambiente e combater a pobreza via postagens nas redes sociais e participando de conferências em salões suntuosos financiados pela elite, outros criam soluções inovadoras.
O fulano supostamente moral, virtuoso, solidário, municiado com belo discurso contra a desigualdade e de proteção do ambiente invariavelmente não agrega valor tangível à sociedade ou ao ambiente. Já sicrano, muitas vezes rotulado de egoísta, inova e é recompensado pelo mercado proporcionalmente ao que agregar à sociedade.
As questões sociais e ambientais do nosso tempo são fundamentais, e o debate sério e científico deve ser estimulado. Mas é perversa a abordagem ideologizada dos chamados alarmistas do aquecimento global, grupo tipicamente formado por celebridades, ambientalistas e políticos de esquerda e quase nenhum cientista climático.
Os alarmistas abusam de retórica inflamada para angariar dinheiro e creem que o ser humano é um destruidor incorrigível do ambiente, incapaz de se mobilizar em torno de causas cruciais para seu futuro e de seus filhos.
Como em todas as questões existenciais em nossa história, as ambientais –poluição, água, lixo, energia, entre outras– serão satisfatoriamente solucionadas por meio do empenho de gente com iniciativa e boas ideias. Bons cientistas e empreendedores já descobriram esse novo nicho de mercado. Que floresça!
Fonte: “Folha de São Paulo”, 29/1/2020