Se incluirmos os planos de saúde no bloco chamado seguro de pessoas, estes produtos já são bem mais da metade do faturamento do setor.
Aliás, o faturamento dos planos de saúde privados já é maior do que o faturamento de todos os outros ramos de seguros somados. Os planos, em 2018, responderam com mais de cento e oitenta bilhões de reais em faturamento. De outro lado, 85% desse total foi pago para atender os procedimentos cobertos, ou seja, dos cento e oitenta bilhões, perto de cento e cinquenta bilhões de reais foram destinados a atender a atividade fim das operadoras, sobrando trinta bilhões para fazer frente às despesas comerciais e administrativas, ao pagamento de impostos e à remuneração dos acionistas.
Ao longo dos últimos anos, a venda de carros novos vem caindo. A razão mais fácil de ser invocada para justificar o movimento é a crise econômica que ainda faz mortos e feridos na economia nacional. Mas só ela não é suficiente e um desenho mais acurado da situação mostra que o Brasil também sente os efeitos de uma tendência internacional. A substituição do automóvel da família como meio de transporte pelo compartilhamento de veículos de empresas especializadas entre várias pessoas. Além disso, a entrada em cena de bicicletas, patins, skates e outras formas alternativas de locomoção também estão impactando a venda de carros novos e, consequentemente, a carteira de veículos das seguradoras.
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Esta tendência parece irreversível e deve se acentuar nos próximos anos. As novas gerações não têm o apego dos mais velhos por carros e outros bens materiais. Como consequência, uma série de atividades econômicas está sendo redesenhada ou mesmo desaparecendo.
O formato das novas empresas promete a redução de custos e a otimização do aproveitamento dos bens e riquezas sociais. O resultado disso é o redesenho das formas de trabalho, com o empregado tradicional sendo substituído por figuras mais leves, com outras competências e responsabilidades.
Estes movimentos levam naturalmente à diminuição da contratação de uma série de seguros de bens. Eles não fazem mais sentido porque a utilização do objeto deixou de ser a tradicionalmente aceita até poucos anos atrás.
De outro lado, o aumento da expectativa de vida leva a novas necessidades de proteção, que, somadas aos novos riscos decorrentes do redesenho da atividade profissional, geram novas demandas de seguros, com o objetivo de garantir o bem-estar individual e a paz social.
Nos próximos anos, o Brasil deve surfar em duas ondas praticamente ao mesmo tempo. Uma é o crescimento da demanda de seguros de vida em função das tipicidades do país, entre as quais o seguro tem como característica a baixa penetração social. E a segunda, são as novas tendências de desenvolvimento que transformam o mundo e a realidade socioeconômica na qual o Brasil está inserido.
Os produtos de seguros de pessoas à disposição do brasileiro estão, grosso modo, defasados em comparação com o que acontece nos países desenvolvidos. O seguro de vida em grupo ainda tem um longo futuro, mas apenas ele é insuficiente para atender as necessidades da sociedade. Da mesma forma, os planos de previdência complementar, que se assemelham muito aos seguros de vida com poupança acoplada, como o são as apólices europeias, norte-americanas e japonesas, precisam passar por uma ampla revisão.
Mais da metade da população brasileira não tem seguro de qualquer espécie. E apenas cinquenta milhões de pessoas têm plano de saúde privado. São números insuficientes para as necessidades brasileiras, mas que mostram claramente que se, de um lado, a penetração dos seguros na sociedade é baixa, de outro, há um alto potencial a ser explorado. Está faltando apenas que o produto certo seja desenhado e comercializado.
Com a retomada do desenvolvimento, na cola da aprovação da reforma da previdência social, o setor de seguros tem tudo para iniciar uma corrida de longa distância, aumentando em muito a participação do seguro de pessoas entre os produtos indispensáveis para a paz social.
Fonte: “Estadão”, 08/05/2019