No complexo cenário e desenrolar eleitoral brasileiro de 2018 muitos executivos, conselheiros e acionistas de empresas tocam os seus negócios em ritmo de cruzeiro lento, aguardando a definição de quais efetivamente serão os candidatos com chances na disputa. Até o momento, as perspectivas não são nada tranquilizadoras. Isso tudo porque, para o mundo corporativo, essa não é uma eleição qualquer. É uma eleição que vem após uma recessão prolongada e relativamente severa, e que define os padrões de recuperação e inserção do país em um novo ciclo após um período institucionalmente conturbado; caso a eleição não resulte em uma solução que gere um ambiente mais estável, essa conturbação crônica poderá tornar o Brasil um país complexo para investimento como aconteceu até meados da década de 1990.
Tradicionalmente, as grandes empresas se posicionam como “neutras” no processo eleitoral. A prática que privilegia a construção de relacionamento com os candidatos mais cotados sobre fundamentos sistêmicos e condições de operação já se provou extremamente perigosa. Não se constrói ou se negocia com governos pouco transparentes ou exóticos. Vantagens temporárias podem transformar-se em dano permanente.
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Como resultado, há um travamento, assiste-se a um processo eleitoral de forma passiva, como se fosse possível acontecer um milagre de última hora no encaminhamento de uma Presidência mais equilibrada, defensora de uma liberalização moderada, reformas e economia de mercado. Um social-liberalismo de Macron à brasileira.
A responsabilidade pública das empresas vai muito além do pagamento de impostos, obrigações, e operações no sistema legal do país. Possibilitam também um envolvimento positivo com o ambiente em que trabalham. Oscilações no câmbio por falta de confiança no futuro geram desordem nos preços relativos, nos planos de negócio; barreiras não-tarifárias proliferam em parte como resultado da desorganização do setor público.
É legítimo, portanto, que as grandes empresas que investem no Brasil se preocupem com as eleições no País, e se posicionem mais. Não um posicionamento em prol de determinada candidatura, mas em torno de princípios fundamentais para uma democracia moderna e para a modernização da sociedade e da economia. Em torno de Programas de Governo menos genéricos e que vislumbrem melhoria do ambiente institucional do País. De demonstração mínima de governança em uma democracia.
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A perda por risco político, a descontinuidade de operação ou o desinvestimento é o pior cenário que as empresas brasileiras podem imaginar. E este não está descartado com as projeções atuais de segundo turno. Portanto, há espaço para ação democrática na defesa de princípios mínimos de governabilidade e gestão econômica que possam reduzir o risco de uma experiência exótica, à direita ou à esquerda, que nos leve a mais estagnação e instabilidade.
Fonte: “GaúchaZH”, 27/06/2018