Nos últimos 24 anos, o MDB investiu na formação de uma grande bancada na Câmara, o que lhe permite participar de coalizões de governo, ganhar ministérios e controlar centenas de cargos. Pode, assim, adquirir força nos Estados e influência na eleição de governadores e parlamentares que formarão a nova base na Câmara. E assim por diante.
Essa bem-sucedida estratégia nasceu de duas circunstâncias. Primeira, a derrota humilhante de candidatos que o partido julgava competitivos: Ulysses Guimarães em 1989 (sétimo lugar) e Orestes Quercia em 1994 (quarto lugar, atrás do pitoresco Eneas).
A segunda circunstância foi a percepção de que o poder não significa ter o presidente da República. Os respectivos benefícios políticos podem em grande parte ser auferidos se o partido integrar o condomínio de poder como membro relevante da coalização. Enquanto o MDB não dispuser de um filiado competitivo, ter candidatura própria é desperdiçar energia e recursos. Melhor aplicá-los na eleição da base parlamentar federal.
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Dois outros fatores surgiram: a proibição de financiamento de campanhas pelas empresas e a drástica redução de dinheiro em espécie para uso como caixa dois. Este último decorre do cerco regulatório à lavagem de dinheiro e à generalização do uso do cartão de crédito, até por igrejas evangélicas. Tudo indica que os R$ 51 milhões estocados pelo ex-ministro Gedel Vieira se explicam pela dificuldade de fazer depósitos ou transferências em bancos.
Assim, o Fundo Partidário e o Fundo de Financiamento de Eleições assumiram importância decisiva. Calcula-se que a opção por ter candidato presidencial implica reservar pelo menos um terço dos recursos do partido para financiar a campanha nacional. Restará menos dinheiro para as campanhas regionais.
Agora, surgiu uma nova realidade para o MDB. Foi o partido que mais perdeu parlamentares no troca-troca encerrado no último dia 7. Sua bancada na Câmara reduziu-se de 65 para 51 deputados. Passou a dividir o segundo lugar com o PP. O primeiro é do PT. Mais, o MDB não dispõe de candidato competitivo para a corrida presidencial.
Na pesquisa DataFolha deste domingo, Temer e Meirelles não passam de 1% das preferências em qualquer dos cenários eleitorais. Nada indica que a melhora na economia, esperada para os próximos meses, possa alterar de forma significativa essa tendência.
Ter um candidato presidencial gera para o MDB o risco de redução adicional da base parlamentar. Por isso, espera-se forte pressão das bases para o partido dedicar todos os seus recursos para financiar campanhas regionais.
A menos de um auto-engano, nem Temer nem Meirelles seguirão na corrida presidencial até o dia das eleições. O MDB tende a apoiar um candidato de centro – provavelmente Geraldo Alckmin –, em coalizão formal ou informal.
Fonte: “Veja”, 15/04/2018