Estive nesta semana no Espírito Santo e ficou-me evidente que, se há grandes desafios na educação brasileira, há também boas políticas públicas que podem ser replicadas. O estado saiu do 14º lugar, entre os estados, no Ideb de ensino médio em 2011, para o 1º lugar em 2017, tendo também desempenho positivo nos outros níveis de escolaridade.
Muitas vezes procuramos em países com culturas e trajetórias educacionais distintas das nossas modelos a serem copiados, e o fazemos com alguma razão. Afinal, se ao se defrontar com dificuldades, construíram soluções que, testadas em escala, funcionaram, por que não deveríamos usar estas práticas já testadas?
Segundo o Instituto McKinsey, em seu estudo “How the Most Improved School Systems Keep Getting Better”, um cuidado deve ser tomado ao se inspirar em iniciativas adotadas por outros países: redes de escolas que estão em diferentes estágios na sua evolução demandam intervenções distintas para continuar progredindo. O que ajudou Singapura a se tornar o primeiro lugar no Pisa não poderia ser replicado no Brasil, antes que cumpríssemos algumas tarefas anteriores.
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Daí porque é vital ver o que tem funcionado no país, especialmente no nível subnacional. Escrevi nesta coluna recentemente sobre os avanços dos estados de Pernambuco e Ceará e é importante notar que, nos dois casos, há práticas parecidas com o que ocorre no Espírito Santo.
Foco em resultados é uma delas, afinal, ninguém melhora o desempenho educacional se não monitora constantemente a aprendizagem, o abandono escolar e a repetência, buscando obstinadamente avançar em relação a estes desafios. Ter um currículo claro e desafiador, com altas expectativas para todos os alunos, material de apoio e investimento em formação para os professores, é outro ingrediente importante.
Completa o ciclo virtuoso, uma combinação de continuidade de boas políticas, independentemente do partido no poder, e o regime de colaboração, ou seja o trabalho em parceria com os municípios do estado na política educacional.
Mas o que também tem trazido sucesso à rede capixaba é o envolvimento da sociedade civil com as escolas. Há alguns anos foi criado o grupo Espírito Santo em Ação que, desde 2013 vem apoiando a implantação de unidades em tempo integral, a partir do modelo concebido pelo educador Antonio Carlos Gomes da Costa, em que que o aluno aprende a ser empreendedor de sua própria vida. Hoje são 33 escolas neste formato, com um forte impacto na aprendizagem e na redução da taxa de abandono.
Este legado precisa certamente ser preservado e expandido para outros estados do país.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 09/11/2018