Nos últimos dias, relatórios importantes foram lançados abordando os desafios da educação básica, seja especificamente no Brasil seja incluindo o país entre um conjunto de economias, como o primeiro volume do estudo Talis – Teaching and Learning International Survey (ou pesquisa internacional de ensino e aprendizagem), da OCDE.
Um dos documentos divulgados foi o módulo anual de educação da Pnad Contínua, do IBGE. Entre outros problemas, ele mostra a persistência do analfabetismo e a ainda reduzida escolaridade do brasileiro.
Mas o texto revela também que houve melhora em quase todos os indicadores educacionais do Brasil entre 2016 e 2018. E, se olhamos para a evolução desde 2000, os avanços foram impressionantes. Naquele ano, o analfabetismo adulto era de 13,7%. Hoje, contamos com apenas 6,8%, concentrados na população de mais de 60 anos.
O que chama a atenção no relatório, porém, é a não diminuição das desigualdades.
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O acesso à educação básica cresceu de 45% para 47,4% na população de 25 anos ou mais nestes dois anos. Mas era maior para brancos, 55,8%, do que para pretos ou pardos, 40,3%. Da mesma maneira, permanecem as diferenças regionais, com o Nordeste com somente 38,9% dos adultos com ensino médio completo, frente a um Sudeste com porcentagem bem maior, 53,6%.
Outro documento, o Anuário da Educação Básica, do Todos pela Educação, também permite celebrar progressos, como a quase universalização do atendimento em pré-escola e a inclusão de cada vez mais jovens de 15 a 17 anos no ensino médio, com 68,7% deles nesta etapa, embora assustem os dados de distorção idade-série e de evasão escolar.
Além disso, mesmo em aprendizagem, há avanços, como a melhoria do Ideb a cada edição da Prova Brasil no quinto ano e, nas últimas três, no nono (embora em escala menor).
No entanto, também aqui as desigualdades são grandes, com a diferença na taxa líquida de matrículas no ensino médio entre brancos e pretos chegando a 12 pontos percentuais.
Na outra ponta, na educação infantil, apesar das diferenças de acesso entre ricos e pobres na pré-escola vir caindo, o mesmo não ocorre com vagas para creches. No quartil mais alto de renda, são 55% os que frequentam a etapa, contra 26% no mais baixo.
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Na busca por explicações para tais problemas, o anuário evidencia a baixa participação compensatória da União em áreas de maior vulnerabilidade.
Já o relatório da OCDE mostra que a baixa atratividade da carreira e a inadequada formação inicial dos professores clamam por políticas públicas que tragam mais talentos à profissão e os preparem para ter altas expectativas de aprendizagem para todos.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 28/06/2019