É impressionante o rosário de declarações desencontradas, descabidas e desconcertantes do presidente eleito e de seus assessores mais próximos. O próprio Bolsonaro faz afirmações que refletem visões pessoais, sem a devida ponderação de suas consequências na opinião pública. A lista é imensa: fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, afirmações desnecessárias sobre o nosso relacionamento com a China e assim por diante.
Bolsonaro corre o risco de ser visto como desinformado em questões triviais, o que que não é bom para sua imagem. Foi o caso do questionamento sobre a metodologia do índice de desemprego do IBGE. Se ele tivesse buscado o mínimo de informação sobre o assunto não teria dito a tolice. Descobriria que o IBGE goza de elevada reputação técnica e que a qualidade de seus trabalhos é comparável à de seus congêneres nos países ricos.
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Seu futuro ministro da Economia fala como se ainda estivesse emitindo análises na sua empresa ou dissertando como simples economista. Defendeu um estranho voto de bancada para aprovação de reformas e mandou que se desse “uma prensa” no Congresso para aprovar a reforma da Previdência. E por aí afora. Um economista de seu grupo tem defendido a inaceitável ideia de uma CPMF para substituir contribuições previdenciárias.
Fica a impressão, para surpresa de muitos, que Bolsonaro é o membro mais equilibrado e sensato da futura equipe de governo. Mesmo quando defende ideias inconvenientes ou insensatas, tem tido a modéstia de recuar e abraçar opiniões de outras pessoas.
O destaque da equipe é o juiz Sergio Moro. Sua entrevista coletiva foi um primor de equilíbrio, paciência e capacidade de dar respostas claras e simples sobre temas complexos. Preparou-se para a entrevista. Usou um texto escrito para orientar suas declarações. O domínio dos temas foi o elemento chave para o sucesso.
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Os demais membros da equipe poderiam seguir o exemplo de Sergio Moro, pois deles se espera que pensem antes de falar. Se não houver tempo para pensar ou se não dispuserem de informações para atender as perguntas, é melhor munir-se de uma frase para negar-se a responder. Os jornalistas vão entender.
Paulo Guedes, neófito na seara do governo e na política, precisa mais ainda de adaptar-se. Ele está aprendendo e tem mais umas sete semanas antes de assumir o cargo, suficientes para amoldar-se a uma realidade distinta da que conhece no setor privado. Uma das lições é não conceder entrevistas em pé na porta de entrada do ministério, cercado de repórteres, microfones e refletores. O risco de dizer algo inconveniente é muito alto. As entrevistas do ministro da Fazenda precisam, sempre que possível, ter o mínimo de organização e ambiente apropriado. Elas podem impactar negativamente os mercados, a opinião pública, o Congresso e o próprio governo. Preparo e cautela são essenciais.
Fonte: “Veja”, 09/11/2018