Na semana anterior falamos sobre a cena política, nosso olhar sobre as eleições, quais candidatos reuniam mais condições, etc. Nesta, comentemos sobre a economia global, neste ano e no próximo. Se possível, tentaremos analisar (ou acompanhar) a “visão do FMI” e de outras instituições, como a OCDE. Saiu em meados do mês passado o relatório periódico do FMI “Perspectivas da Economia Mundial” de julho deste ano, revisando algumas projeções de abril. Vejamos então os principais pontos.
Para a economia global. Nossa percepção é de que o crescimento da economia mundial não é mais tão uniforme como dito pelo relatório anterior do FMI. No de abril o FMI havia destacado o “crescimento sincronizado” da economia mundial. Agora, o que se tem é o “desbalanceamento global”, com os emergentes passando por uma transição e alguns países avançados perdendo dinamismo, como Canadá, Japão, Zona do Euro, aqui destacando a França e a Alemanha, e o Reino Unido.
Sobre os avançados. Os EUA seguem em crescimento robusto, em torno de 2,9%, em muito impulsionados pelos estímulos fiscais, dado o corte de impostos adotado por Trump em dezembro passado, mas com dúvidas sobre sua sustentabilidade no longo prazo. Isso porque, “tensões comerciais, flutuações cambiais e instabilidade do petróleo”, além de incertezas na geopolítica, já cobram os seus preços para o “equilíbrio global”. A OCDE pensa da mesma forma, comentando sobre o “abrandamento do crescimento global”, mesmo reconhecendo a trajetória sólida e estável do Japão e dos EUA. No caso dos países da Zona do Euro observa-se “alguma reversão de um otimismo exagerado”. Aqui vai alguma divergência entre o FMI e o OCDE, pois a primeira não enxerga o Japão com o mesmo dinamismo dos EUA.
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Falando dos EUA, importante observar como deve se comportar o Fed nos próximos meses. Parece consenso uma elevação da taxa de juros de curto prazo agora em setembro e mais outra em dezembro. A lógica aqui é obter a “normalização da política monetária”, o que deve elevar a taxa de curto prazo ao patamar de 3% a 3,5% no médio prazo. Segundo a consultoria Capital Economics, “a forte economia americana e o núcleo anual da inflação, acima da previsão, atingindo o nível mais alto em uma década, devem levar o Fed a aumentar a taxa de juros uma vez por trimestre nos próximos 12 meses”. Será?
Na semana passada saiu nos EUA o índice de preços ao consumidor (CPI) a 0,2% em julho contra junho, com o núcleo no mesmo patamar. Na comparação anual, o CPI avançou 2,9% em julho, abaixo da previsão de 3,0%, enquanto que o núcleo registrou 2,4%, nível mais alto desde setembro de 2008, acima da projeção de 2,3%. Já o PCE, do mesmo mês, gravitava em termos anualizados em torno de 1,8%.
É neste contexto que, embora mantendo o crescimento global de 3,9% para o biênio de 2018 e 2019, observamos alguns países perdendo dinamismo e outros, como os EUA, estáveis, mas também sujeitos a correções. O crescimento deste país, como dito, chega a 2,9% neste ano, mas desacelera a 2,8% em 2019.
Na opinião do FMI, “a escalada da tensão comercial surge como maior ameaça de curto prazo para o PIB global, com as barreiras dos EUA e as respostas de outras nações”. Segundo o FMI, “além do impacto imediato sobre o sentimento do mercado, a proliferação de medidas comerciais pode aumentar a incerteza sobre a amplitude potencial das ações comerciais, dificultando o investimento, enquanto barreiras comerciais mais elevadas tornam os bens comercializáveis menos acessíveis, perturbando as cadeias globais e retardando a disseminação de novas tecnologias, reduzindo assim a produtividade”.
Neste contexto, como podemos observar na tabela ao fim, as economias avançadas devem crescer 2,4% neste ano (e não 2,5%), derrubadas pelo menor crescimento da Zona do Euro (2,2%), tendo aqui destaque a Alemanha (2,2%).
Sobre os emergentes. Também se observa um crescimento mais desigual entre estes países. A justificar isso “o avanço do petróleo, o aumento dos ganhos nos EUA e uma virada de mesa na visão dos mercados em relações às tensões comerciais e as incertezas políticas e fiscais destes países”. Para os emergentes, o FMI vislumbra crescimentos de 4,9% e 5,1%, respectivamente, neste ano e no próximo.
Podemos analisar, neste caso, o Brasil, o México, Argentina e a Turquia como países mais expostos aos pontos citados. O Brasil, por exemplo, vive um complicado momento de transição política com eleições extremamente incertas, não se sabendo quem irá para o segundo turno e “opções na mesa bem complicadas”. Cabe observar que o maior desafio que se coloca deve passar pela busca de uma solução no campo fiscal. Temos um déficit de R$ 130 bilhões em 12 meses e o ajuste necessário supera mais que o dobro disso, cerca de R$ 300 bilhões, para se tentar um superávit acima de 2% do PIB, que estabilize a trajetória da dívida pública, acima de 77% do PIB. Complicada também é a situação da Argentina, mesmo obtendo recursos do FMI para sustentar suas reservas cambiais e ainda na Turquia.
Nesta sexta-feira (dia 10) assustou o anúncio de uma forte intervenção do governo Erdogan na economia, com uma “nova política econômica”, colocando o BACEN de lá sob pressão. Preocupa a trajetória da inflação, próxima a 16% anuais (ver mais no Diário Econômico) e a perda de valor da moeda local (lira turca).
Retornando ao Brasil, o crescimento projetado pelo FMI passou de 2,3% para 1,8% neste ano, mantido em 2,5% em 2019. Para o FMI, “a recuperação do País é suave, conduzida pela recuperação do consumo doméstico e pelos investimentos”. Aguardemos o que vai sair das eleições e qual agenda econômica deve ser apresentada pelo eleito.